sábado, 19 de novembro de 2011

Segredos de Campinas

Há muito, em São Paulo, venho tentando achar um interior com cara de interior.

No meu imaginário, o interior com cara de interior não pode ter prédios.
Interior com cara de interior tem que ter uma praça singela e uma igrejinha.
Interior com cara de interior tem que ter ruas de paralelepípedo ou de terra.
Interior com cara de interior tem que ter velhinhas conversando sentadas na frente do portão.
Interior com cara de interior tem que ter barrigudos tomando cerveja em garrafa em mesas na calçada.
Interior com cara de interior não tem condomínio com seguranças.
Interior com cara de interior não tem chefe de cozinha.
Interior com cara de interior tem um cozinheiro, uma esposa ou uma vovó que seguem receitas de tradição.

E quando eu já havia perdido todas as esperanças de achar esse ideal de interior, eis que encontro um distrito chamado Joaquim Egídio, em algum lugar de Campinas. Justo Campinas, cidade que jamais me despertou esperança de encontrar tão almejado lugar.

Bendita hora que resolvi achar o tal Bar do Marcelino. Após duas horas de confusões com o GPS, que parece não ter entendido o nome da rua, resolvi apelar ao recurso que não falha: a interação humana. (Não sem antes me beneficiar da burrice do equipamento e amolar o meu marido com meu discurso anti gps). Voltando a boa e velha comunicação entre seres da mesma espécie, disquei para o bar e fui atendida pelo próprio Marcelino. Seguindo suas orientações, como em um passe de mágica, atravessamos o mundo real e fizemos uma viagem ao tempo. Ultrapassamos barreiras invisíveis e num piscar de olhos havíamos sido transportados para um autêntico interior com cara de interior.

Foi assim que achei o meu tão sonhado paraíso. E justamente ali fica a casa do Marcelino, que nos presenteia com o melhor da cozinha simples, saborosa e caseira. Quando avistei o bar, percebi o calor logo na entrada: com suas mesinhas de caixote de feira, cheias de gente sorridente, já sabia que ali era "o lugar". E o que dizer do afeto com que Marcelino recebe seus clientes? Sabe aquele calor que a gente acha que se perdeu? Pois ele é preservado por gente como Marcelino. O singelo slogan do bar, resume esse lugar que parece nos abraçar: "Especialidade da casa: você!"



Joaquim Egídio é daqueles lugares que nos tocam, nos emocionam. Demorei muito para encontrá-lo. Uma parada obrigatória para os que precisam reencontrar a paz do interior - da cidade e do seu.

R. Heitor Penteado, 1113
Joaquim Egídio - Campinas
www.bardomarcelino.com.br

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

OÁSIS URBANO

Eu preciso falar de um paraíso. Mas antes, preciso definir o arquiteto Ruy Ohtake. Não gosto do termo polêmico. Eu arriscaria irregular. Se por um lado cria o incrível desenho de meia melancia do Hotel Unique, por outro é capaz de fazer uma gigantesca torre cor de rosa no lado mais bucólico de pinheiros.




Paradoxalmente, a horrenda torre abriga um dos mais belos centros culturais da cidade, o Instituto Tomie Ohtake. Eu batizo o local como um dos melhores shoppings culturais da cidade. Primeiro, porque tem uma livraria daquele gênero em extinção: pequena, aconchegante e com uma excelente seleção de títulos - não só de arte, mas infantis e clássicos (que em geral nossos olhos não alcançam em uma mega loja). É a Livraria Gaudi, que contém o essencial.




O instituto abriga também uma lojinha bem bacana de design, a "It". Além de incríveis caderninhos e "coisinhas" cheios de bossa para escritório, tem uma boa variedade de jóias e bijous com muito charme e design criativo.

O restaurante do instituto é um caso a parte. Não só por ter aquele ar interessante de restaurante cosmopolita, mas porque o cardápio é elaborado nada menos do que a ótima chef Morena Leite, do Capim Santo. Da sua cozinha saem delícias com sotaque baiano e toque moderno que ela domina como ninguém.

Culminando com o mais importante, as exposições, arrisco dizer que nem é preciso você consultar a programação dos cadernos de cultura antes de partir para lá. A seleção do instituto é sempre muito criteriosa - oferece a cada temporada algo relevante e interessante.

Atualmente está em cartaz a exposição "Chaplin e sua imagem". É uma exposição que nos remete a toda a magia do cinema mudo e do inventor do humor com poesia na telas.
Os registros fotográficos dos bastidores dos seus filmes são documentos preciosos. Ao ler os seus pensamentos, é possível perceber que suas ideias não envelhecem - nos permite uma reflexão profunda sobre os nossos tempos.

"Silêncio: que graça universal. Como poucos de nós sabem aproveitá-lo... Talvez porque ele não possa ser comprado." (Charles Chaplin)

Instituto Tomie Ohtake
Av Brigadeiro Faria Lima, 201 - Pinheiros
(entrada pela rua Coropés)
tel: 2245-1900

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Noite Feliz!

Fazendo jus a minha fama de deixar tudo para a última hora, é com enorme prazer que convoco a todos que curtem - ou simplesmente passam por - esse blog para a noite de lançamento do meu querido "Manual de Sobrevivência em São Paulo - um guia para cariocas e simpatizantes" que acontecerá... tchan, tchan, tchan, tchan..... no dia 26/10! Espero vocês, pessoas queridas que estão aí do outro lado da telinha, para comemorarem comigo! Para aumentar o apelo e atratividade da noite, garanto que vale à pena ir lá nem que seja para conhecer a arquitetura do prédio e da loja. É uma arquitetura "verde", tudo pensado para ser ecologicamente correto. Tem planta saindo por todos os buracos, uma loucura! Até lá!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Butantã Moment

A cada dia me encanta mais o Butantã.

Um bairro onde não há um grande shopping de luxo.
Um bairro onde não há mansões de estilo normando.
Um bairro onde não há portões com brasão dourado.

Os grandes luxos do Butantã são:

O incrível campus da USP, com uma área verde que parece não acabar - onde confesso que sonho que meus filhos um dia irão estudar.

O admirável Instituto Butantan, belíssimo, bem preservado e uma prova de que o brasileiro não é simplesmente um povo folclórico, que só é bom na música e no esporte.

A bela casa de concreto do ícone da arquitetura moderna brasileira, Paulo Mendes da Rocha.

A Casa do Bandeirante, onde confesso nunca entrei, mas pelo simples fato de ser uma relíquia bem preservada nessa cidade que tem, como diz Caetano, "a força da grana que ergue e destrói coisas belas", deve ser um lugar exaltado e valorizado.

A escassez de arranha céus, a sensação de se ter um horizonte possível.


Se um carioca, paulistano ou chinês me perguntar sobre o lugar mais aprazível, menos afetado e mais simpático para se ter a casa dos sonhos, esse lugar é o Butantã.

domingo, 25 de setembro de 2011

Uma galinha tem seu valor

Hoje o meu domingo está no top ten dos domingos felizes. Tudo por causa de uma galinha.

É isso mesmo. Resolvi me presentear com uma galinha. Não serei hipócrita em dizer que fiz isso para encher de felicidade a vida da minha família. Em um ímpeto de coragem, assumo que esse ato foi em prol da minha total e irrestrita satisfação em lambuzar meus dedos de gordura, chupar ossinhos saborosos da asinha e me encher de uma sensação indescritível de prazer.

Se você quiser sentir tudo isso e mais um pouco, o endereço do prazer fica logo ali na Vila Madalena, no Galinheiro Grill. Em cinco minutos - sem exagero - preenchi meu buraco existencial. A experiência não é nova. Já fui lá muitas vezes. Mas a experiência de levar a ave terapêutica para casa é inédita. E eu recomendo.

Entrei, pedi uma galinha no balcão, paguei a bagatela de vinte e seis reais com direito a uma farofa, me virei para o balcão em frente e pronto. Lá estava aquela churrasqueira maravilhosa, com aproximadamente vinte ditas cujas mortas e douradas, ardendo em chamas. Pausa para apreciar esse momento de pura emoção. Em segundos, o Seu Fulano (eu sei, uma heresia eu ter esquecido o seu nome), vestido impecavelmente de branco e com a precisão de um cirurgião, faz uma linda coreografia do esquartejamento da galinha. Tá-tá-tá! Pura poesia para meus ouvidos.

O aroma de ervas do tempero deve ter contribuído para aquele estágio da alma que alcancei. Não tenho dúvidas de que atingi o Nirvana.

Mas naquele ambiente de tamanha eficência e rapidez não há como uma pessoa se dar ao luxo de ocupar um mísero espaço no balcão por mais de cinco minutos. Meus segundos finais chegaram. Conferi o Seu Fulano jogar rusticamente os meus tão almejados pedaços de galinha em um indefectível saco transparente e segui rumo ao meu esconderijo.

Com minha habitual competência e voracidade finalizei o meu trabalho. Nem o menor vestígio do crime deixei.


Galinheiro Grill
Rua Inácio Pereira da Rocha, 231 – Esquina com a Fradique Coutinho
3816-3208 / 3816-6023 / 3796-9264

sábado, 17 de setembro de 2011

Independência, suor e reflexão

7 de setembro de 2011. Vai ficar na memória. Resolvi passar da maneira mais paulistana possível, que é correndo. Sim, porque 9 em cada 10 pessoas desse meu mundinho pequeno que gira em torno do Morumbi, Itaim, Jardins e adjacências, parecem obstinadas com esse negócio de corrida. No meu caso, é uma questão de consciência. Ou punição, pelas frequentes orgias alimentares.

Não só corri, como participei de uma prova no Parque da Independência. A ideia desse post não é falar dos meus dotes atléticos, até porque eu passei cada um dos 10 km tentando ultrapassar um japonês muito gordinho e (confesso!) muito humilhada com os vovozinhos que me ultrapassavam com enorme facilidade.

Tirando esses desgostos, o sentimento que dominou a minha manhã de 7 de setembro foi o encantamento. O impacto ao me daparar com o Museu do Ipiranga, no coração do parque, e seu deslumbrante jardim, jamais sairão da minha memória. Após passar por tantas regiões cinzentas, feias e decadentes, não imaginei encontrar tamanha beleza reinando naquele emblemático lugar. Direto do pesadelo urbano para o cenário de um romance francês.



Assim, durante todo o percurso da corrida, tentava entender como o entorno daquela maravilha de símbolo da cidade, aquele exemplar da mais bela arquitetura e natureza, ficou tão decadente. Não há como evitar a tristeza de ver no que essa cidade se transformou. E não há como não pensar que existe algo de errado na lógica da formação das cidades.

Passando para esse clima de reflexão, a melhor maneira de se terminar esse texto é com as opiniões contundentes, filosóficas, poéticas e interessantes daquele que considero o maior de todos os pensadores vivos desse nosso país, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, hoje com oitenta e três anos.

Sobre São Paulo: "monumental, contraditória e com aspectos de desastre".

Sobre o conceito de cidade: "A cidade existe na mente do homem como um desejo. Se você imaginá-la como um espaço de pura especulação e negócio, ela jamais poderá ser bela."

Sobre a feiura da cidade: "Eu tenho a impressão de que antes da cidade ficar feia, são as pessoas que enfeiam"

Sobre o morar na cidade: "Os donos do dinheiro já abandonaram a cidade. Que ela seja, então, do povo. Eu tenho a impressão de que o futuro do mundo será feito pelos que vêm de baixo. Aqueles que compreendem as virtudes da cidade."

Sobre os condomínios privados: "E essa rodovia que foi projetada para transportar mercadorias fica repleta de idiotas que dizem que moram num condomínio privado. Privado do quê? O pessoal não presta atenção nem nas palavras porque se o condomínio é privado, está se privando de alguma coisa. Não estou fazendo um jogo de palavras, é privado porque é privativo, pertence só a eles. Mas também os priva de muita coisa. Algo como o estudante de medicina poder se apaixonar pela bailarina. Isso não acontece em condomínio fechado."

Não há como se pensar que Paulo Mendes da Rocha seja simplesmente um arquiteto. Acho comovente vê-lo refletir sobre como a vida enclausurada em condomínios nos afasta dos lindos acasos da vida, como a possibilidade do estudante de medicina poder se apaixonar pela bailarina.

Nós, que aqui moramos, devemos ser devotos de lugares como o Parque da Independência, que tem o poder de nos fazer conectar com algo de belo dentro de nós. Um lugar onde a beleza dos mais imprevisíveis encontros é possível.


Museu do Ipiranga
Parque da Independência - Ipiranga

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Feira à noite

Se você acha que fazer feira à noite pode ser roubada, estou aqui para dar meu testemunho.

Antes, é preciso dizer que São Paulo tem feiras livres incríveis e que muitos moradores ainda mantém essa maravilhosa tradição. As que recomendo são a Feira do Pacaembu, com seu maravilhoso e imbatível Pastel do Zé (se bem que também tem um tal de Pastel da Maria que acabou de ser premiado como o melhor pastel da cidade e, falha minha, ainda não provei) e a charmosa Feira da Vila Madalena. Ir a uma dessas feiras em um belo sábado e se acabar em um desses recheadíssimos pastéis é um programaço.

Mas eu andava louca era para fazer uma feirinha à noite. Quando li sobre essa possibilidade, achei incrível. Ainda mais no Ceagesp, o maior centro abastecedor de frutas e legumes da capital. Imagina poder comprar delícias fresquinhas em plena quarta-feira à noite? Que programa descoladérrimo, pensava eu inocentemente. Imagina que baita dica para aqueles que ralam o dia inteiro poderem terminar seu dia com charme e um pit stop nesse centro de conveniência a céu aberto ?

O SONHO:
Vislumbrei uma coisa assim com clima meio Soho meio Tribeca meio Candem Town ou qualquer coisa assim.

A REALIDADE:
Ao sair de casa você já acorda rapidinho de qualquer eventual devaneio. Ir a Vila Leopoldina significa pegar a Marginal. Não é preciso ser vidente para saber o que acontece com uma pessoa que sai do Morumbi em direção a Vila Leopoldina às seis da tarde em plena quarta-feira. E para completar o cenário de horror, acrescento que eu estava com marido e filhos.
Após uns quarenta e cinco minutos de engarrafamento, uma das crianças já roncando e babando no estofado, eis que chegamos ao entorno do Ceagesp. Tentarei ser o mais fiel ao quadro, sem carregar na tinta: tive a sensação de estar em volta do Carandiru. Não que eu já tenha ido lá, mas desconfio que à noite deve ser páreo duro com o clima lúgubre e sinistro do entorno do Ceagesp.
Finalmente achamos o portão 7. Aquilo parecia mesmo ser um oásis. Movimento de carrinhos de feira, gente falando alto, frutas e legumes fresquíssimos, peixes de primeira por dez reais o kilo, barraca de japonês, churrasquinho, pastel, enfim, o maravilhoso mundo povão. Finalmente me senti em casa.

Fazer feira à noite em São Paulo é para quem tem alto poder de abstração. É preciso abstrair o caminho, abstrair o entorno, abstrair o tempo no trânsito. Se conseguir esse feito, pode ser um programa pitoresco.



Ceagesp:
Av. Dr. Gastão Vidigal, 1946 - Vila Leopoldina
sábados: 6h às 12h30 - domingos: 7h às 13h – no Pavilhão MLP – entrada pelo portão 3
quartas-feiras: 14h às 22h – no Pavilhão PBCF – entrada pelo portão 7

Feira do Pacaembu:
Praça Charles Miller, s/nº, terças, quintas e sábados - das 7:30h às 13h

Feira da Vila Madalena:
Rua Mourato Coelho - das 7:30h às 13h

domingo, 14 de agosto de 2011

Dicas do Marcelo Duarte sobre Moema

Fui perguntar "o que é que Moema tem de imperdível?" a quem entende tudo de São Paulo - o jornalista Marcelo Duarte (que apresenta o "É Brasil que não acaba mais" na Bandnews fm, que escreveu o Guia dos Curiosos, que é dono da Panda Books, que apresenta o "Loucos por esporte" na ESPN dentre as mil atividades que exerce)

Minha conversa com ele começou em tom de mentira. Da minha parte, é claro. Eu que não ia dizer o propósito da entrevista: dicas de Moema para um blog de dezenove seguidores.

No resto da entrevista, juro que só prevaleceu a verdade. Eu disse que estava em busca de entender a alma de Moema e que eu achava estranho o fato de, por um lado ser um bairro considerado bacana pelos seus moradores, mas por outro sofrer preconceito velado. Ele não tem idéia do porque do preconceito e acha que Moema faz jus ao título de "bairro nobre". Acha seu comércio de alto nível, gosta do fato de poder andar a pé por lá e diz que pelo menos uma vez por semana vai a doceria Só Doces para comer o melhor macaron da cidade - esse doce lindo e colorido da foto, feito com amêndoas que virou moda em São Paulo (não é maravilhosa uma cidade que tem moda gastronômica?). Cita o fato de ser um bairro próximo ao Parque do Ibirapuera, ter excelentes opções gastronômicas e possuir uma ótima casa de shows.



Ainda não estou convencida que Moema é isso tudo. Mas estou louca para ir até lá descobrir o sabor desses belos macarons.

Só Doces
Alameda dos Arapanés,540
Moema - São Paulo - SP

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Da Silva


Todo carioca que se preza gosta de um lugar baratim. E não sou eu quem vou negar essa tradição. Descobrir lugares gostosos e baratos - e se possível com algum charme - sempre dá essa sensação de uau, como é bom pagar pouco pra comer bem.

E foi assim que eu me senti ao descobrir o ótimo Da Silva, em Higienópolis. Uma graça de lugar, com ar meio de boteco e decoração que nos remete ao cenário da Grande Família. Nos fundos, uma bela parede com cestos plásticos coloridos usados como prateleiras. Alguns televisores anos sessenta espalhados, santinhos na parede e ladrilhos cafonas dão o tom da brincadeira.



Para um almoço rápido, a boa pedida é escolher um dos grelhados (carne, frango ou peixe) e se servir à vontade no buffet com acompanhamentos bem caseiros e honestos, tipo arroz, feijão e farofa - além das opções de saladas (essas são bem básicas, mas esse não é o lugar ideal para vegetarianos). Seu gasto ficará entre R$ 20,00 e R$ 30,00, dependendo do tipo de carne que você escolher. Melhor custo benefício, impossível.

O atendimento é ótimo. Garçons simpáticos sob o comando do dono, o Rafa, que fica ali no caixa e se preocupa em perguntar pessoalmente se os clientes foram bem atendidos. Nesses tempos em que os donos de restaurantes parecem ser mega investidores, banqueiros ou franqueadores, fico feliz quando encontro essa espécie em extinção: o dono que fica atrás no balcão.


Da Silva Bar
R. Maria Antônia, 316 - Consolação
tel 2872-2249

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O porquê da lista de Moema

Continuo achando Moema um enigma. Pesa mais o ar meio cafona, da classe média que se acha chique. Mas cada um tem lá sua opinião sobre o que precisa de um bairro para ser feliz.

Eu, por exemplo, moro no Morumbi. Acredito que até mesmo aqui deva ter moradores que julgam esse bairro como o melhor. Justo o Morumbi, coitado, um bairro que é uma espécie de apêndice: uma vez extirpado não fará falta alguma para a memória da cidade. Para os torcedores do São Paulo, talvez.

Mas a minha lista das "10 coisas incríveis que só Moema tem" serve para que eu deixe claro que apesar de Moema não estar na minha lista dos "10 bairros de São Paulo que eu colocaria na Arca de Noé", ainda assim existem preciosidades que valem a visita ao bairro.

Continuo, portanto, buscando mais oito itens para fechar a minha lista de Moema. Quanto ao 10 bairros que eu salvaria, isso vai ficar uns posts à frente.

As 10 coisas incríveis que só Moema tem - parte 1

Na minha busca por preencher a lista das “10 coisas incríveis que só Moema tem”, eu não conseguia sair do item um. Apenas os doces e o bacalhau do restaurante português “A Casota” encabeçavam a minha lista dessas coisas poderosas que justificam você sair de casa não importa qual o bairro ou qual a distância, para ir até lá. Eu precisava apenas de mais nove coisas muito especiais ou muito autênticas ou muito imperdíveis que só se encontram em Moema.

Decidi então conhecer o Bar do Giba no último sábado. A começar pelo tratamento vip que recebi ao ligar para lá, posso dizer que é daqueles lugares que me fez pensar como consegui sobreviver em São Paulo sem nunca ter ido lá. Liguei ainda pela manhã e quem me atendeu foi o Diogo. Não me perguntem quem é o Diogo, mas sei que ao perguntar sobre o horário de abertura e qual a melhor hora para não pegar fila ele me disse para eu não esquentar e que o grande barato da espera era relaxar tomando minha cervejinha gelada , ou se eu preferisse, uma caipirinha. Nem precisa dizer que eu desliguei o telefone e corri para lá.

Ao chegar a rua, a visão do Bar do Giba em um sábado à tarde era quase uma miragem. No meio de um montão de prédios residenciais, em uma calma rua de Moema e com a trilha sonora dos aviões que passavam a dois palmos da minha cabeça, lá estava o buraco mais quente de Moema. Não chega a ser um pé sujo – aliás, é até muito limpinho. Mas as mesinhas cheias na calçada, as pessoas de visual descontraído (nem todas, porque juro que vi uma bolsa de corrente dourada, mas tudo bem , isso é são Paulo) e aquelas maravilhosas cachaças enfeitando o bar são o cenário perfeito para qualquer pessoa passar um maravilhoso sábado na paulicéia. Por sorte, entrei no bar e vi uma mesa desocupada. Falei com o baixinho moreno que arrumava a mesa e ele gentilmente liberou o lugar. Perguntei o nome dele e ele disse sou o Giba. Esse é o grande Giba! Aquele típico dono de bar que limpa as mesas e atende com simpatia seus clientes. E para entrar de vez na lista dos 10 lugares definitivamente incríveis de Moema, posso dizer que a coisa mais charmosa e pitoresca do bar (além da maravilhosa foto em preto e branco do pequeno Giba aos oito anos enchendo o copo do pai de cerveja) é o fato de não ter cardápio. O simpático garçon explica que hoje é dia de filé Oswaldo Aranha e feijoada, dá suas dicas sobre os melhores petiscos e ainda dá uma prova de uma tal barra de torresmo que é a alegria de qualquer apreciador da baixa gastronomia.

Mas como ainda faltam mais oito itens para minha lista, vou recorrer ao mega super garimpador de São Paulo, o jornalista Marcelo Duarte e conto minha conversa no próximo post.

Bar do Giba - Av Moaci, 574 - tel 5535-9220
A Casota - Av Miruna, 442 - tel 5093-6751

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Por uma estética autêntica e honesta.

Voto pela criação de um Órgão Regulamentador da Arquitetura e Harmonia da Cidade, o O.R.A.H.C., que contriburia diretamente para um equilíbrio estético da capital e - por que não ? - emocional de seus moradores. E que esse órgão tenha autonomia para derrubar todas as colunas gregas e toda forma de novo que seja simplesmente uma réplica de quinta categoria de um estilo neoclássico ou rococó.

Eu sei, deveria respeitar o gosto dos outros. Mas o problema é que o mau gosto dos outros - arquitetos insanos - interfere de uma forma brutal dos demais moradores da cidade. Não falo somente da parte estética, mas queria saber por que alguém precisa construir, por exemplo, um prédio residencial de 120 metros de altura - em plena parte baixa da Rua Haddock Lobo. E, ironicamente, o nome do prédio é L'Essence. Não há dúvida que se trata da essência do mau gosto. Um monstro assustador que deixaram emergir no belo bairro dos Jardins.




quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Nas ruas do Brás

Sinto-me uma investigadora de São Paulo. Tento juntar as peças todas e encontrar algum sentido nesse caos. Toda e qualquer história da cidade me interessa.

Eis que, cai em minhas mãos, graças à escola do meu filho, o livro mais poético que já vi sobre os velhos tempos na capital. Um livro de recordações da infância do Dráuzio Varella, passada nas ruas do Brás. Além das deliciosas histórias e aventuras do menino Dráuzio, você tem acesso ao maravilhoso universo dos imigrantes italianos e espanhóis.

É a oportunidade de viajar no tempo e mergulhar em um outro Brás...

O Brás onde existia o armazém do Seu Pinto, com sacos empilhados e linguiças penduradas.
O Brás de ruas de paralelepípedo e crianças soltas a brincar.
O Brás dos imigrantes que tocavam piano para sua família aos domingos.
Ah, que delícia de tempo!
Tempo da beleza do coletivo, onde um banheiro servia a três famílias de imigrantes.
Tempo em que podia se chamar carinhosamente a moça que vende doces de negra do manjar.
Tempo em que um menino era apelidado de gordo, sem que isso significasse mal estar.
Tempo em que a poesia sobrevivia dentro de cada lar.
Tempo de vida dura, mas com tempo para se sonhar.

Nas ruas do Brás - autor: Dráuzio Varella
Coleção Memória e História - Companhia das Letrinhas

sábado, 23 de julho de 2011

Fondue Japa

Se você ainda não provou o fondue japonês, aproveite o friozinho e corra para Liberdade.

Meu candidato a uma parada obrigatória para um sukyiaki é o Sushi-Yassu. Não, não se trata de restaurante com chef celebridade. Também não espere um daqueles japoneses “ousados” que oferece sushi de carne seca com abóbora. O Sushi-Yassu é japonês raiz. E da melhor qualidade.

O sukyiaki se assemelha ao fondue no ritual de preparo. Em uma panela contendo uma espécie de água mágica o garçon vai aos poucos colocando legumes e carne - cortada fina como um carpaccio. Não tenho a menor idéia do que se põe na água, só sei que o toque adocicado e misterioso é divino.

O ambiente do restaurante é simples e aconchegante. A melhor pedida é escolher um dos quartinhos com tatame. Mas fique sabendo que para usufruir dos pequenos ambientes privados é necessário o pagamento de uma taxa de doze reais.

Rua Thomás Gonzaga, 98 - Liberdade - tel: 3209-6622
www.sushiyassu.com.br
Valor do Sukyiaki: R$ 69,00 - para dois.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Férias no parque

Sei que para a maioria dos pais a palavra férias vem acompanhada da palavra desespero. Se os dois ralam das oito às oito, restam poucas alternativas: é colônia de férias ou acampamento. Sim, na cultura paulistana é comum deixar seu filho uma boa parte das férias imerso no universo da animação descontrolada dos recreadores e tios que comandam os acampamentos localizados fora da capital. Por outro lado, consideremos que é a rara oportunidade da criança vivenciar e entender que o habitat natural da galinha não é o freezer.

Mas se você, assim como eu, tem o privilégio de poder dedicar um mínimo do seu tempo diário para os filhos, deveria parar de reclamar do tormento que é ficar com as crianças no seu pé dentro de casa. Sei o quanto é duro aguentá-las subindo pelas paredes e voando de um sofá para outro. Mas eu juro que o suicídio não é a sua única saída. Sugiro uma atitude mais sensata. Vamos nos aliar aos pequenos guerreiros, parar de tratá-los como inimigos e curtir esse restinho de férias juntos. Pelo menos foi o que fiz ontem , após certa pane mental. E não precisa ser muito criativo, pensar em atividades muito complicadas ou pedagógicas.

Minha dica é aproveitar o programa mais óbvio e democrático da cidade: o Ibirapuera. O gigante verde tá sempre deitado ali, esperando você. Mas eu sei, nunca é o melhor dia para ir com as crianças. Tem sempre muita gente, tem sempre outra coisa mais interessante para se fazer, tem sempre uma boa desculpa. Acabamos indo às grandes exposições e só. Entramos e saímos sem dar a menor bola para o melhor espaço de entretenimento ao ar livre da cidade.

Quanto a quem mora ali perto, desconfio que muitos, embora valorizem e ostentem o fato de morar ao lado do Central Park paulistano (adoro essa comparação cafona!) sofram da síndrome do já-fui-oito-vezes-a-Disney-com-meus-filhos-mas-não-me-peça-para-interagir-com-eles-em-um-parque-público (não acredito que estou usando esse recurso irritante de hifenização...)

Voltando a minha experiência. Sinto-me privilegiada. Não só por ter escapado dos pensamentos suicidas, mas por ter resgatado meu encantamento pelo parque. A começar pelo preço do aluguel da bicicleta: 5,00 a hora. Tudo bem que a marcha não funcionava, o freio era quase nenhum e o banco parecia de aço. Mas só o fato de você não ter que perder meia hora carregando e descarregando sua bicicleta do carro, já vale deixar a frescura de lado e encarar. A sensação de andar dentro do Ibirapuera, realmente tira você de qualquer lembrança de que mora no caos. É verde que não acaba mais. Eu já nem me lembrava que naquele lago habitava um número tão grande de patos e outras espécies com bico que eu confesso não saber identificar.

Essa época de férias é perfeita para curtir o Ibirapuera. Ainda mais para os que podem se dar o luxo de ir entre segunda e sexta, quando se pode transitar sem risco de morte por atropelamento.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O poetinha da terra cinzenta

Esse post era apenas para eu dar a dica sobre um dos músicos mais bacanas da cidade. Mas como não sei separar sentimento de opinião e assim como acredito que arte não pode ser só técnica, precisa de emoção, tenho que juntar meus retalhinhos de sentimentos nesse texto até chegar ao momento em que descobri o menino talentoso que encanta as pessoas com seu acordeon.

Quando aqui cheguei, eu não sabia que o desconforto permanente que eu sentia era o fato de que essa célula indefinível chamada São Paulo tinha o poder de me lembrar a cada segundo que sou tão caótica como ela.
Para amenizar esse impacto, descobri a importância do refúgio musical, dentro da minha bolha chamada carro. Assim, virei dependente química da leveza de Paulinho da Viola e Vinícius de Moraes – essenciais para encarar a dureza e a loucura dessa cidade.

Na minha busca musical, descobri que no solo cinzento paulistano nascem coisas especiais e inacreditavelmente leves e belas, como a voz e a música da Céu, da Mariana Aydar e a sambista Dona Inah. No universo masculino, o cenário parece mais deserto - ou com menor divulgação. Não só em São Paulo, mas em relação ao mercado nacional, tenho a impressão que para cada dez Marias Gadus ou Vanessas da Mata que surgem, aparece um Seu Jorge.

Não temos como mensurar se os homens estão menos férteis no campo musical ou se as gravadoras são mais seduzidas pela voz feminina ou qualquer outra teoria absurda que possa surgir. Seja lá qual seja a verdade, só sei que na safra de agosto de 1982, nascia no improvável solo chamado Cohab – um conjunto habitacional no bairro de Guaianases – o multitalentoso Marcelo Jeneci.

E no dia 11 junho de 2011, dentre as oitocentos e noventa e quatro opções de shows na cidade, tive a sorte de escolher justamente o de Jeneci. Sempre me incomodo com apresentações de poses marcadas, onde parece que o artista decorou cada passo ou gesto no palco. Na minha mente saudosista sempre me vem a imagem do show, no mínimo despojado, do Vinícius na Itália, onde ele canta sentado atrás de uma mesa coberta por uma indefectível toalha de onça, copinho de whisky na mesa e seu inseparável cigarro na ponta dos dedos. No meio do show entra Miúcha, com sua simplicidade encantadora, em seu vestidinho tomara que caia de algodão branco e sua voz pequena e poderosa. Para essa geração a magia do show estava longe do marketing, da imagem construída e desejada. Existia apenas emoção e verdade.

Mas hoje posso comemorar o não falecimento da música genuína, feita com sentir de verdade, com autenticidade e poesia. O show de Jeneci tem o lamento e a mágica do acordeon, tem a voz deliciosamente infantil da Laura Lavieiri e um olhar lindo sobre a vida que transpassa pela música e cola no coração da gente.

Assim encontrei o poeta mais novo dessa geração, que me ajuda a viver e a manter minha ternura no meio do caos.

“ Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem...”(Felicidade-Marcelo Jeneci)

Próximo show: Praça Benedito Calixto dia 7 de agosto às 17:30h , no Festival de Talentos Bohemia.
www.marcelojeneci.com.br

terça-feira, 17 de maio de 2011

Vila Mercatto

Fui conhecer um endereço que me disseram ser um dos preferidos das mulheres modernas e chiques, que valorizam uma compra com charme. Obviamente, essa mulher não sou. Sou daquelas que se diverte vasculhando uma boa ponta de estoque ou um bazar atrás de uma peça incrível que provavelmente não combina com nada no meu guarda-roupa.

Mas voltemos ao que interessa: a charmosa vila. Sua localização já diz tudo. Uma vila cheia de estilo, próxima a Oscar Freire, conhecida por concentrar marcas promissoras. Já abrigou griffes como Adriana Barra e NK Store, nas suas fases iniciais. Confesso que não achei nada de especial nas lojas de moda feminina. As que mais me chamaram a atenção foram a de sapatos Who’s e a de bolsas Flavia Carvalho Pinto. Os calçados da Who’s são coloridos na medida, sem perder a elegância.



E as bolsas da Flavia são despojadas e chiques, quase todas em tecido. O destaque fica para os charmosíssimos porta Ipads.



Só não vai pensar que em um lugar desses encontrará alguma pechincha. Com esse pensamento pobre (como o meu) melhor nem ir. Pelo menos, finja que está fazendo uma pesquisa de mercado. Ou tente se convencer que só olhar faz bem.

Apesar de ter visto circulando por lá a Luciele di Camargo – que é bem cafoninha e atingiu o seu grau máximo da fama quando esteve na Fazenda da Record - juro que o lugar é realmente bacana!


- Vila Mercatto
Rua Peixoto Gomide, 1801 - Jardins.

- www.flaviasarnohandbags.blogspot.com
- www.whos.com.br

terça-feira, 10 de maio de 2011

Minha casa mineira

Comida com gosto de útero da mamãe é a mineira. Não que eu me lembre do gostinho que tinha o cordão umbilical, mas só sei quando um tutu me desce pela garganta é como se meu corpo fosse abraçado pelo primitivo calor materno.

Em São Paulo, encontrei meu cantinho mineiro. Ali, volto a ser um ser humano normal, sem a paranóia permanente de ter quatro quilos a menos e sem o assombro da eterna culpa por amar uma friturinha. Chegar na minha casinha mineira, é como encontrar minha família. Sou recebida por gente simpática que me serve as maiores maravilhas da minha querida Minhas Gerais. Começo com pastelzinho de carne seca, depois aipim frito sequinho com um delicioso torresminho crocante e na hora H uma inacreditável galinhada que serve no mínimo três pessoas.

Esse é o Xopotó! Uma casinha tão aconchegante e tipicamente mineira que parece ser impossível existir em pleno Itaim. E os preços são mais do que justos, considerando as gigantescas porções servidas em panela de barro - algumas chegam a servir três!

End: Rua Doutor Fabio Haidar, 136
3949-12767
www.xopotorestaurante.com.br

domingo, 24 de abril de 2011

Feijoada, Itu, terrenos e delírios.

Se você quiser comer uma boa feijoada em uma deliciosa varanda de arquitetura colonial, bem longe dos arranha céus e do caos, escolha um sábado de sol e pegue a estrada. Em apenas cinqüenta minutos (provavelmente o tempo mínimo que você deve gastar diariamente para chegar ao seu trabalho), você adentra outro mundo de paz e aconchego. Essa é uma dica especial para você se livrar do stress e comer bem, por um preço razoável. Logo ali em Itu, está o Hotel San Raphael, onde comi uma deliciosa feijuca no sábadão pré-Páscoa. Claro que não comi de tudo, porque afinal de contas vivo uma dieta detox, que não me permite tamanha ousadia. Mas comi aquelas duas colheres de couve como se fosse um porco inteiro. Saboreei minha única concha de caldinho da feijoada como se fosse a última. Aliás, nem sei se minha opinião sobre a feijoada vai poder ser levada em conta, dada a minha frágil condição gustativo-psicológica causada pela dieta nazista.

Mesmo ingerindo 10% dos alimentos do meu padrão habitual, tive total sensação de felicidade e prazer diante daquele banquete. Depois dali, estava eu tão bem que não devia ter tido a infeliz idéia de ver terrenos à venda. Nem sei porque estou escrevendo isso, porque afinal de contas o que interessa mesmo é minha dica da feijuca, mas estou tão indignada que vou me aproveitar do meu próprio espaço para soltar toda minha revolta. Será que alguém em sã consciência paga 500 mil reais por um terreno de 2mil m2 em Itu? Será que os franceses é que estão loucos ao cobrar por uma charmosíssima casa em Avignon (que ocupa os mesmos 2mil m2 de terreno) o valor de 283 mil euros - o equivalente a 645mil reais? Eu não sei quais parâmetros os corretores do interior de São Paulo usam. Até entendo que estar perto da capital, a apenas uma hora, é algo a ser considerado, mas não pode ser tão super valorizado assim. Se eu tivesse que escolher, me apertaria um pouco, compraria minha casinha em Avignon e me mandaria pra lá nas férias escolares das crianças, de dezembro a fevereiro. Ok, nunca fui a Avignon, mas acho a idéia de uma casa na região da Provence bem mais sedutora do que em Itu. Deixem-me delirar. Estou de dieta.


www.sanraphaelcountry.com.br/

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Fuga para Gonçalves

São Paulo causa estranhas sensações. Uma delas é o repúdio. Um dia você acorda e seus olhos só conseguem ver o feio. A marginal, o trânsito, a arquitetura cafona da Daslu, a estátua do Borba Gato e uma lista interminável de coisas incrivelmente feias.

Nesse momento tente manter a lucidez e planejar um ponto de fuga. O paraíso mais perto que farejei, saindo de solo paulista, foi a cidade de Gonçalves, em Minas.

Ao passar pelo centro da cidade, em um grande vale, constatei que cheguei ao que precisava. A cidade parece ter apenas duas farmácias, um mercadinho, um médico, um advogado, uma Banco do Brasil e uma paróquia.

Passando pela cidade, uma estradinha de terra para o Hotel Bicho do Mato (quer nome mais apropriado?). Em quinze minutos cheguei ao paraíso. Logo na entrada, um salão envidraçado com a mágica piscina aquecida, abraçada por um visual incrível das montanhas. No quarto, o essencial: lareira, simplicidade e uma janela para o verde. A comida, como de praxe em Minas, é incrivelmente boa.



Passeios à cavalo, milho feito na lenha, despertar ao som do cocoricó. Mas a melhor terapia são os passeios do Otaviano's Rancho. Naquele cenário lindo, rústico, cheio de celas penduradas, a recepção calorosa da doce Dona Rosa, filha do seu Otaviano.

É lá que você faz o pitoresco passeio de trem, que não passa de um gigantgesco trator, super desconfortável (por isso divertidíssimo) e que te leva pelos mais incríveis picos e lindas plantações. Maravilhoso!

Ir para esses cantinhos do Brasil onde o tempo parece não ter passado, são remédios milagrosos. O pulmão se abre, a dor de cabeça some, a paz interna aparece, a semente da gentileza se renova. É comovente a felicidade genuína e a pureza da gente que dali nunca saiu.

Talvez Gonçalves não seja tão visitada pelos paulistanos devido ao tempo do percurso. Teoricamente, são 190 km de São Paulo a Gonçalves. Mas a sensação que a gente tem é a de percorrer o dobro do caminho. Golçalves é a cidade que parece não chegar nunca. Mas pense que para alcançar o paraíso é necessário um pouquinho de sofrimento. Foram exatas três horas, a partir da entrada da Dutra.

Não posso esquecer de falar dos preços das pousadas, que são muito convidativos. Não se compara aos preços da vizinha besta Campos do Jordão e a (dizem)gostosa Santo Antônio do Pinhal.

Se você precisa de um tempo fora da selva caótica, nada melhor do que a terapia rural de Gonçalves.


Pousada Bicho do Mato
http://www.pousadabichodomato.com.br/
pousada@pousadabichodomato.com.br
(35) 3654-1350

sexta-feira, 18 de março de 2011

Cá estou eu no The Hub.

Um lugar incrível, cheio de gente com muitas idéias. O the hub é mais do que um espaço que você loca para trabalhar algumas horas. É uma espécie de loft, todo aberto, onde você pode - e deve - interagir com os vizinhos. Confesso que ainda não tive coragem de interagir com ninguém. Tive a idéia de conhecer isso aqui quando li sobre o espaço em algum jornal.

Inicialmente, não pensava em ficar aqui tantas horas. Estou aqui desde as três e meia da tarde. Apenas faria a visita rápida, depois iria para casa e escreveria sobre o assunto. Mas ao vir visitar o lugar, achei tão bacana a dinâmica, a possibilidade de troca com outros seres que tentam não só sobreviver, mas se realizar na selva urbana, que vi enorme potencial para virar conteúdo interessante para o blog (além do imensurável benefício me deixar algumas preciosas horas longe do meu atribulado e inviável escritório-casa).

Estou aqui de frente para uma mesa, estrategicamente bem posicionada. Logo na entrada, virada para o salão. Fico observando atentamente - e espreitando o que dizem - cada um dos futuros empresários ou empreendedores de novos negócios. O bacana daqui é que para se associar você precisar ter sintonia com assuntos relevantes para o planeta. Ou seja, o seu projeto ou filosofia precisa de alguma forma ter sinergia com a busca de um mundo melhor (seja em termos de cultura, sociedade ou meio ambiente). Além, claro de pagar uma taxa mensal, de acordo com o número de horas a ser utilizado. Como preciso abordar alguém para extrair assunto relevante para o blog, dirijo-me ao grande painel na entrada, onde cada um dos usuários coloca sua foto com um breve raiox do seu projeto. Mas o que me chama atenção no resumo de cada um é o que respondem para a pergunta “o que procuro?”. Acho que essa vai ser uma boa maneira de achar uma vítima. A resposta que mais me agradou foi a mais ideológica possível - “mudar o mundo, unir pessoas, paz”. Foi uma tal de Ricardo Gravina quem respondeu isso. Ele aparece bem sorridente na foto. Espero que seja mesmo simpático e que não me expulse da sua mesa quando eu o abordar. Volto para minha mesa. Não encontro Ricardo Gravina. E todos parecem bem absorvidos por seus projetos. Já são quase oito da noite, o the hub fecha em poucos minutos e a chuva desaba lá fora.

Entrevista, só semana que vem...


The Hub
Rua Bela Cintra, 409.
http://saopaulo.the-hub.net

domingo, 13 de março de 2011

Devaneio sobre o Pirajá - um quase bar carioca.

Preciso detalhar meus pensamentos enquanto me deliciava com o Bacalhau ao Brás do Pirajá. Ao adentrar o bar, qualquer carioca sente a sensação do calorzinho materno. Basta, é claro, abstrair um pouco e esquecer que você está em plena Avenida Faria Lima.

Ambiente sempre acolhedor, aquele tratamento simpático que só garçon de boteco sabe dar, freguês abraçado pelas lindas fotos de Dona Zica, Pixinguinha e Monarco nas paredes e embalado pelo samba gostoso da Velha Guarda da Portela. Eis que, de repente, o clima se quebra. Avisto duas tevês de plasma da Samsung dentro do salão. E percebo que os garçons emitem nosso pedido pelo terminal central do computador localizado na coluna central do botequim. É.. O clima de bar carioca autêntico dos anos cinquenta morreu...

Nesse momento, a salvação! Vejo um típico carioca entrar. Vestindo aquela hering meio ferrada e velha, uma bermuda caqui largona, jeito meio largado. Mas olho para o seu pé e percebo meu engano. Seu tênis nike branquésimo de velcro é inadmissível. Afinal, o que faz um cidadão comprar um tênis de velcro? Qualquer pessoa de bom senso sabe que tênis de velcro só é permitido para crianças e idosos. Definitivamente, ele não é um típico carioca.

Concluo que ele é a tradução perfeita do Pirajá. Ambos estão quase lá. Só falta trocar o tênis, tirar as tevês de plasma e passar a utilizar o indefectível bloquinho de pedidos.

Missa, bacalhau e brigadeiro!

Como eu amo o inusitado! Missa ao meio dia em pleno domingo pós carnaval. Não, não virei beata. Mas agora devo ir a missa uma vez por mês para que eu possa mostrar ao meu filho a importância da fé e o sentido dele estar se preparando para a sua primeira comunhão. Não sabia que ao catequisar meu filho eu também teria que reaprender os ensinamentos de Deus, aprendidos lá nos anos oitenta, na escola de freiras. Para minha surpresa, minha primeira missa em São Paulo, na Igreja da Cruz Torta no Alto de Pinheiros, graças ao ótimo sermão do padre Renato, foi um bom resgate da minha fé. Mas vamos ao que interessa, antes que vocês pensem que estou querendo catequisar vocês.

Confesso que por mais que eu tente me concentrar na missa, pensamentos estranhos e hereges invadem a minha mente. Como suspeitar da masculinidade do diácono só porque seu cabelo branquinho parecia ter laquê. Ou pensar “eu não acredito que o padre entrou no discurso dos eco chatos de vamos salvar o planeta”. E já são quase uma da tarde e o único ser divino que eu penso é no bolinho de abóbora com carne seca do Pirajá, a poucos passos da paróquia. Ainda mais depois de degustar a hóstia como se fosse o último pedaço de pão da face da terra.

Uma e dez da tarde. Encerramento da missa. Rumo ao Pirajá. Nada de entradinhas ou feijoada. Resolvo arriscar. Vou de bacalhau ao Brás. Não sei se cometo heresia, mas ouso dizer que é melhor do que o comi no Porto. Suculento, molhadinho, cremoso, cebola e sal no ponto.

E para fechar, cometo o pecado da gula. Uma paradinha ao lado, na Brigadeiro Doceria para me perder de vez em um brigadeiro crocante. Simplesmente divino! Brigadeiro de chocolate branco, recheado de brigadeiro de chocolate com amêndoas e finalizado com farofa de biscoito.

Aguardo ansiosamente a missa no próximo domingo!

Pirajá - Av Brigadeiro Faria Lima, 64 - tel: 3815-6881
Brigadeiro Doceria - Rua Padre de Carvalho, 91 - tel 5096-1707

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A bureka da Dona Lona

Meu roteiro gastronômico em São Paulo agora será em torno do popular, do acessível do bom e barato. Quero experiências gastronômicas incríveis por menos de dez reais. Esse valor máximo é para as irresistíveis comidinhas que a cidade oferece, tipo pastel do Zé, esfiha da 25 de março, sanduíche de mortadela e pastel de bacalhau do mercadão. Para o almoço , espero encontrar maravilhas por menos de trinta reais.

As pérolas gastronômicas que têm me encantado são as receitas populares que os imigrantes nos presenteiam. Receitas guardadas a sete chaves por gerações e gerações, que viajaram quilômetros, atravessaram o Atlântico, até aqui chegar. Mas não se engane com o termo popular. Na verdade, essas preciosidades são sofisticadíssimas. Elas costumam conter especiarias, farinhas, queijos e condimentos vindos de algum lugar secreto do outro lado do mundo.

Meu último deleite, a Bureka da Dona Lona - a búlgara do Bom Retiro.

Podemos também chamar de meu último crime, considerando minha segunda semana de dieta. Pensando bem, crime é estar em São Paulo e se privar de uma maravilha como essa, autêntica, que você só conheceria se fosse à Bulgária. E como a Bulgária provavelmente não está na sua lista de países a serem visitados nos próximos vinte anos, sugiro que você dê um pulo no Bom Retiro e conheça a pequena Casa Búlgara. Experimente pelo menos uns três sabores de bureka e para finalizar compre uma caixa de mini burekas para viagem.

A massa é folheada, gordurosa na medida, crocante e levíssima. O recheio de queijo búlgaro com espinafre é indescritível, desmancha na boca. Descubro que a felicidade tem preço. E custa barato. Apenas três reais e noventa. Dona Lona que não nos ouça, mas eu pagaria fácil fácil dez reais por uma bureka.

Casa Búlgara - Rua Silva Pinto, 356 – tel: 3222-9849

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Seu Joaquim, o barbeiro da Vila

Em um dos cantos mais estranhos da Vila Madalena, atrás do cemitério, religiosamente Seu Joaquim senta no seu banquinho plástico, quase na calçada e ali se põe a ler o jornal. Tarefa difícil, porque cada pedestre que ali passa faz questão de dar um alô para o seu Joaquim, que sempre de forma simpática retribui com um largo sorriso. Seus cabelos são brancos, brancos, com textura de algodão doce. As únicas coisas novas que parecem entrar ali são os clientes e a edição diária do jornal. O resto é de mil novecentos e bolinha. Por isso é tão autêntico. Lá dentro, apenas uma cadeira típica de barbeiro, linda, porém rasgada - comprada em 1951. Na parede, azulejos azuis dão o toque celestial.

Seu Joaquim não sabe da sua importância, mas ele representa um ato de resistência na megalópole. Sabemos que um barbeiro é figura quase extinta numa cidade como São Paulo. É bem provável que as crianças de hoje nem saibam o que é um barbeiro. Concluo ser um programa altamente cultural levar as crianças para conhecerem Seu Joaquim. Mas aviso que seria uma ofensa pedir para ele fazer um corte à La Justin Bieber.

Fico aqui pensando na barba com navalha.... que tipo de homem será esse que ainda faz barba com navalha? Creio ser também uma espécie em extinção.
Se eu fosse macho não perderia essa experiência por nada.

Informações:
Rua Horácio Lane, 19 - Vila Madalena
13 reais o corte e 7 reais a barba – tudo com navalha
2af das 12h às 18h / de 3ª f a 6af das 9h às 18h / Sab das 9h às 16h

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Reunião escolar e peep toe com unhas vermelhas não combinam

22 de fevereiro de 2011. Primeira reunião de pais da escolinha. O bairro é o Morumbi.

Às 18:30h, exatamente uma hora antes do evento, eu só consigo pensar com que roupa as pessoas vão para uma reunião dessas em São Paulo. Afinal de contas estamos no bairro mais emergente da capital. Tento escolher uma roupa com aquele ar de quem estava trabalhando em algo meio alternativo, tipo o que eu faço (ou o que eu tento fazer), que é escrever nas poucas horas vagas. Até passou pela minha cabeça tentar dar uma enganada e me passar por mãe normal, que trabalha em lugar normal e que se veste de jeito normal. Aqui em São Paulo, leia-se normal o estilo de vestir de secretária de multinacional. Muito scarpin, calças retas e casaquinhos ou taillers. Tudo na tonalidade dos cinzas, beges e pretos. Decido ser mais honesta no meu traje. Serei eu mesma. Ou melhor, serei o que aspiro ser. Saia e blusa da Totem com muita cor, que além de dar o ar tentando-ser-uma-mãe-moderna-e-cool ainda vem com o pretensioso toque morram-de-inveja-porque-eu-sou-carioca.

A primeira supresa foi ver um bando de mães modelo básico, sem excesso de jóias, nem de roupas excessivamente caretas e nem de caras ou peitos excessivamente plastificados. Mas surpresa de verdade, vem sempre de onde a gente menos espera: da professora. Sim, da professora. Aquela que eu esperava encontrar no mesmo uniforme que eu vi à tarde, resolve dar um upgrade na imagem. Eis que ela adentra a sala de aula - onde nós pais tentávamos nos acomodar nas mini cadeirinhas, fazendo eu me sentir num cenário bizarro do Tim Burton. Para minha total perplexidade, Tia Mariana resolveu colocar toda sua sexualidade para fora justamente no dia da primeira reunião de pais do jardim-de-infância. Mini saia justíssima preta, camiseta cinza também justíssima para valorizar seus peitões (que pelo tamanho excessivo seria valorizado mesmo por baixo de um moleton) e sapato peep toe altíssimo de verniz preto (se não sabe de qual modelo se trata, me desculpe, é muita falta de informação básica) com o detalhezinho das unhas dos pés vermelhas. Enquanto ela falava sobre a pauta da reunião eu só conseguia rezar para que ela não se sentasse nas mini cadeirinhas.

Mais uma supresa. Tia Mariana agiu com absoluta elegância e sentou-se de forma bem comportada (para alívio de todas as mulheres e provável decepção dos maridos). Cumpriu muito bem seu papel, dando segurança aos pais de que fizeram uma boa escolha para seus filhos. Às 20:40h eu saí da escola confiante na sua metodologia. E rezando para que Tia Mariana não me invente um modelito noivinha sexy na festa junina.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Olhar especial

O bom de não ter muita verba é que a gente precisa ser criativo. Assim, busco prazeres culturais a preço de banana.

A escolha de hoje foi a exposição do Thomas Farkas. Custo zero. E o melhor, no coração de Higienópolis - onde depois basta alguns passos para você se deliciar com um pão fresquinho na padaria Aracaju (eleito o melhor pãozinho da cidade não só por mim, mas também pela Carla Pernambuco!). Sim, sempre dou um jeito de colocar a comida no meio do caminho. Isso é bem cultural também, bem paulistano eu diria. Por isso eu amo o David LaChapelle, que eu sei, não tem nada a ver com o tema do post, mas preciso dizer que me vejo como a mulher que é esmagada pelo mega hambúrguer desta foto magistral aí embaixo.


Voltemos à exposição que deu origem ao post. O assunto aqui é o Farkas. É São Paulo.
Minha primeira reação ao descobrir que Thomas Farkas nasceu em Budapeste foi de pesar. Veio ainda pequeno para SP, coitadinho, onde ficou até sua morte. Tá certo que eu não conheço Budapeste, mas sou como o Chico Buarque: não preciso ir até lá para saber que é uma cidade incrível.

Thomaz Farkas retrata a alma da cidade nos anos 40 e 50.
Sua São Paulo tem peso pluma, nos ajuda a olhar com leveza e poesia a cidade e seu povo. Pensando bem, se ele tivesse ficado em Budapeste talvez não desenvolvesse olhar tão apurado. Concluo levianamente que não seria desafiado e estimulado visualmente.

Viajar na São Paulo de Farkas é uma delícia.
Vi charme na multidão do Pacaembu. Vi sapatos lustrosos de couro. Vi uma época em que meninos ainda subiam em árvore na capital. Vi as mais belas sombras do gradil do viaduto de Santa Efigênia.
Pela primeira vez, senti a sensação de saudosismo por uma São Paulo que eu não vivi.
Efeito Thomas Farkas.




ps: Farkas também registrou o Rio e Brasília magistralmente, mas nada me tocou mais do que as imagens de São Paulo.

Instituto Moreira Salles
Rua Piauí, 844 - Higienópolis.
De terça a domingo - até 03/04.
(de terça a sexta das 13h às 19h - sáb, dom e feriados das 13h às 18h)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

E o que dizer do Chi Fu ???

Simplesmente, o melhor chinês da cidade.

Confesso que não fui a nenhum outro. E nem quero. É como o polpetone do Jardim de Nápoli. Para que arriscar, né? Sabemos que nenhuma outra cantina irá superar a receita deles. Quando a gente tem a chance de conhecer essas preciosidades (que deveriam ser tombadas pelo patrimônio histórico da cidade!) sabemos que estamos diante de um momento histórico da nossa vida gastronômica.

No Chi Fu, a maior parte da população é chinesa. Ali só se fala o mandarim. Nem ouse querer falar em português. Esse já é o charme inicial. Ninguém ali se entende. Você pede guardanapo e a garçonete lhe traz um guaraná. Você pergunta qual o acompanhamento do pato e ela responde pato (?). Até você perceber que o melhor é olhar o que está sendo servido nas mesas vizinhas e apontar. Se preferir, vá ao cardápio e mostre o que você quer. Surpreendentemente, no cardápio os nomes dos pratos aparecem também em português. Qualquer coisa que você pedir vai ser uma boa pedida. Mas se é para dar uma dica, aí vai: sopa de frutos do mar, pato caramelado, arroz colorido, carne com legumes e camarão no vapor.

A decoração é de uma cafonice chinesa maravilhosa. Tudo muito dourado, muito Shangai. Se tirassem as pessoas daquele salão, eu me sentiria na mansão do satânico Dr No.
As mesas são comunitárias, as porções são mega size e o preço uma maravilha! Sai de 30 a 40 por pessoa. Mas atenção: só pagamento em dimdim.

A sobremesa, esqueça. Simplesmente não tem. É servido apenas um prato de melancia fatiada – por conta da casa!

Como o restaurante está sempre lotado, é melhor você ir muito cedo (meio dia! argh!) ou então naquele horário bem carioca de almoço, depois das três.

Pça. Carlos Gomes, 200, Liberdade, 3112-1698
(o telefone é só para constar, nem pense em ligar para reservar ou pedir informações)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Noite quente: eu, Marina de La Riva e Marcello Serpa

Em uma bela noite, descobri a melhor intérprete da capital. Se você acha que essa história tem baixaria, enganou-se. Só fiz esse título esdrúxulo e apelativo para chamar a sua atenção e dizer que Marina de La Riva é imperdível. Semana passada ela fez um (apenas um mesmo) show no Bourbon St e me surpreendi com o que vi. (não posso me esquecer de dizer que lá estava o publicitário de um milhão de leões de ouro, Marcello Serpa, na melhor mesa da casa, pois todo mundo sabe que pessoas como Marcello Serpa não assistem a um show como eu ou como você que se contentam em ficar espremidos em uma pilastra ao lado do banheiro).
E eis que surge no palco Marina de La Riva, que para minha surpresa (e meu desconforto junto ao meu marido) é simplesmente lindíssima (na capa do cd ela está apenas ok), sensual e tem voz de sereia. E a infeliz (desculpem o desabafo!) ainda consegue dar uma interpretação incrível para hits como “Adivinha o quê? “ do Lulu Santos e “Sonho meu”. E ainda mistura ótimos hits cubanos tirados lá do fundo do baú.
Claro que não podia faltar uma parte chata do show, que são as músicas para corno também cubanas. Mas isso é um problema que nem Paul Mc Cartney consegue resolver nos seus históricos shows. Vai ver se trata de uma espécie de estratégia de marketing, para evitar que a apresentação atinja a perfeição (coisa essa que pode fazer a platéia enjoar), então vamos escolher a dedo uma música boring ou então mandar ver naquela nova composição que ninguém nunca ouviu e que é chata pra cassete.

Esqueçamos esse detalhe. O importante é você torcer para que ela faça um novo show aqui em São Paulo. Fique ligado!

http://www.marinadelariva.com.br/site/agenda/
http://www.myspace.com/marinadelariva
(Acabo de ler na Wikipedia que Marina de La Riva nasceu em 1973 – embora pareça ter vinte e cinco, o que será que ela faz???!!! - é carioca, foi criada em Campos e vive em São Paulo desde o vinte um).

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

SÃO PAULO, VOLTEI!

Como pode uma carioca sentir falta dessa terra? Nem os paulistanos acreditam...

Preciso do Rio quando me sinto sufocada, quando preciso de ar. Mas o excesso de oxigênio, trinta dias ininterruptos, me levou a sentir falta da imperfeição, da vida real.

Cansei de ver o mar, cansei das favelas, cansei de chopp todo dia, cansei do descomprometimento com hora, cansei de encontrar gente conhecida na rua todo dia, cansei de viver o mundo resumido dos quarteirões do Leblon.
Simplesmente cansei.

Estranho é me dar conta que para sobreviver preciso de São Paulo injetado na veia.