7 de setembro de 2011. Vai ficar na memória. Resolvi passar da maneira mais paulistana possível, que é correndo. Sim, porque 9 em cada 10 pessoas desse meu mundinho pequeno que gira em torno do Morumbi, Itaim, Jardins e adjacências, parecem obstinadas com esse negócio de corrida. No meu caso, é uma questão de consciência. Ou punição, pelas frequentes orgias alimentares.
Não só corri, como participei de uma prova no Parque da Independência. A ideia desse post não é falar dos meus dotes atléticos, até porque eu passei cada um dos 10 km tentando ultrapassar um japonês muito gordinho e (confesso!) muito humilhada com os vovozinhos que me ultrapassavam com enorme facilidade.
Tirando esses desgostos, o sentimento que dominou a minha manhã de 7 de setembro foi o encantamento. O impacto ao me daparar com o Museu do Ipiranga, no coração do parque, e seu deslumbrante jardim, jamais sairão da minha memória. Após passar por tantas regiões cinzentas, feias e decadentes, não imaginei encontrar tamanha beleza reinando naquele emblemático lugar. Direto do pesadelo urbano para o cenário de um romance francês.
Assim, durante todo o percurso da corrida, tentava entender como o entorno daquela maravilha de símbolo da cidade, aquele exemplar da mais bela arquitetura e natureza, ficou tão decadente. Não há como evitar a tristeza de ver no que essa cidade se transformou. E não há como não pensar que existe algo de errado na lógica da formação das cidades.
Passando para esse clima de reflexão, a melhor maneira de se terminar esse texto é com as opiniões contundentes, filosóficas, poéticas e interessantes daquele que considero o maior de todos os pensadores vivos desse nosso país, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, hoje com oitenta e três anos.
Sobre São Paulo: "monumental, contraditória e com aspectos de desastre".
Sobre o conceito de cidade: "A cidade existe na mente do homem como um desejo. Se você imaginá-la como um espaço de pura especulação e negócio, ela jamais poderá ser bela."
Sobre a feiura da cidade: "Eu tenho a impressão de que antes da cidade ficar feia, são as pessoas que enfeiam"
Sobre o morar na cidade: "Os donos do dinheiro já abandonaram a cidade. Que ela seja, então, do povo. Eu tenho a impressão de que o futuro do mundo será feito pelos que vêm de baixo. Aqueles que compreendem as virtudes da cidade."
Sobre os condomínios privados: "E essa rodovia que foi projetada para transportar mercadorias fica repleta de idiotas que dizem que moram num condomínio privado. Privado do quê? O pessoal não presta atenção nem nas palavras porque se o condomínio é privado, está se privando de alguma coisa. Não estou fazendo um jogo de palavras, é privado porque é privativo, pertence só a eles. Mas também os priva de muita coisa. Algo como o estudante de medicina poder se apaixonar pela bailarina. Isso não acontece em condomínio fechado."
Não há como se pensar que Paulo Mendes da Rocha seja simplesmente um arquiteto. Acho comovente vê-lo refletir sobre como a vida enclausurada em condomínios nos afasta dos lindos acasos da vida, como a possibilidade do estudante de medicina poder se apaixonar pela bailarina.
Nós, que aqui moramos, devemos ser devotos de lugares como o Parque da Independência, que tem o poder de nos fazer conectar com algo de belo dentro de nós. Um lugar onde a beleza dos mais imprevisíveis encontros é possível.
Museu do Ipiranga
Parque da Independência - Ipiranga
sábado, 17 de setembro de 2011
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