quarta-feira, 20 de julho de 2011

O poetinha da terra cinzenta

Esse post era apenas para eu dar a dica sobre um dos músicos mais bacanas da cidade. Mas como não sei separar sentimento de opinião e assim como acredito que arte não pode ser só técnica, precisa de emoção, tenho que juntar meus retalhinhos de sentimentos nesse texto até chegar ao momento em que descobri o menino talentoso que encanta as pessoas com seu acordeon.

Quando aqui cheguei, eu não sabia que o desconforto permanente que eu sentia era o fato de que essa célula indefinível chamada São Paulo tinha o poder de me lembrar a cada segundo que sou tão caótica como ela.
Para amenizar esse impacto, descobri a importância do refúgio musical, dentro da minha bolha chamada carro. Assim, virei dependente química da leveza de Paulinho da Viola e Vinícius de Moraes – essenciais para encarar a dureza e a loucura dessa cidade.

Na minha busca musical, descobri que no solo cinzento paulistano nascem coisas especiais e inacreditavelmente leves e belas, como a voz e a música da Céu, da Mariana Aydar e a sambista Dona Inah. No universo masculino, o cenário parece mais deserto - ou com menor divulgação. Não só em São Paulo, mas em relação ao mercado nacional, tenho a impressão que para cada dez Marias Gadus ou Vanessas da Mata que surgem, aparece um Seu Jorge.

Não temos como mensurar se os homens estão menos férteis no campo musical ou se as gravadoras são mais seduzidas pela voz feminina ou qualquer outra teoria absurda que possa surgir. Seja lá qual seja a verdade, só sei que na safra de agosto de 1982, nascia no improvável solo chamado Cohab – um conjunto habitacional no bairro de Guaianases – o multitalentoso Marcelo Jeneci.

E no dia 11 junho de 2011, dentre as oitocentos e noventa e quatro opções de shows na cidade, tive a sorte de escolher justamente o de Jeneci. Sempre me incomodo com apresentações de poses marcadas, onde parece que o artista decorou cada passo ou gesto no palco. Na minha mente saudosista sempre me vem a imagem do show, no mínimo despojado, do Vinícius na Itália, onde ele canta sentado atrás de uma mesa coberta por uma indefectível toalha de onça, copinho de whisky na mesa e seu inseparável cigarro na ponta dos dedos. No meio do show entra Miúcha, com sua simplicidade encantadora, em seu vestidinho tomara que caia de algodão branco e sua voz pequena e poderosa. Para essa geração a magia do show estava longe do marketing, da imagem construída e desejada. Existia apenas emoção e verdade.

Mas hoje posso comemorar o não falecimento da música genuína, feita com sentir de verdade, com autenticidade e poesia. O show de Jeneci tem o lamento e a mágica do acordeon, tem a voz deliciosamente infantil da Laura Lavieiri e um olhar lindo sobre a vida que transpassa pela música e cola no coração da gente.

Assim encontrei o poeta mais novo dessa geração, que me ajuda a viver e a manter minha ternura no meio do caos.

“ Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem...”(Felicidade-Marcelo Jeneci)

Próximo show: Praça Benedito Calixto dia 7 de agosto às 17:30h , no Festival de Talentos Bohemia.
www.marcelojeneci.com.br

Um comentário:

  1. Aguarde!!!!! Um dia, meu show em Sampa vai te inspirar um post tb. rs. Bjs e sucesso. Mussa.

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