segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A bureka da Dona Lona

Meu roteiro gastronômico em São Paulo agora será em torno do popular, do acessível do bom e barato. Quero experiências gastronômicas incríveis por menos de dez reais. Esse valor máximo é para as irresistíveis comidinhas que a cidade oferece, tipo pastel do Zé, esfiha da 25 de março, sanduíche de mortadela e pastel de bacalhau do mercadão. Para o almoço , espero encontrar maravilhas por menos de trinta reais.

As pérolas gastronômicas que têm me encantado são as receitas populares que os imigrantes nos presenteiam. Receitas guardadas a sete chaves por gerações e gerações, que viajaram quilômetros, atravessaram o Atlântico, até aqui chegar. Mas não se engane com o termo popular. Na verdade, essas preciosidades são sofisticadíssimas. Elas costumam conter especiarias, farinhas, queijos e condimentos vindos de algum lugar secreto do outro lado do mundo.

Meu último deleite, a Bureka da Dona Lona - a búlgara do Bom Retiro.

Podemos também chamar de meu último crime, considerando minha segunda semana de dieta. Pensando bem, crime é estar em São Paulo e se privar de uma maravilha como essa, autêntica, que você só conheceria se fosse à Bulgária. E como a Bulgária provavelmente não está na sua lista de países a serem visitados nos próximos vinte anos, sugiro que você dê um pulo no Bom Retiro e conheça a pequena Casa Búlgara. Experimente pelo menos uns três sabores de bureka e para finalizar compre uma caixa de mini burekas para viagem.

A massa é folheada, gordurosa na medida, crocante e levíssima. O recheio de queijo búlgaro com espinafre é indescritível, desmancha na boca. Descubro que a felicidade tem preço. E custa barato. Apenas três reais e noventa. Dona Lona que não nos ouça, mas eu pagaria fácil fácil dez reais por uma bureka.

Casa Búlgara - Rua Silva Pinto, 356 – tel: 3222-9849

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Seu Joaquim, o barbeiro da Vila

Em um dos cantos mais estranhos da Vila Madalena, atrás do cemitério, religiosamente Seu Joaquim senta no seu banquinho plástico, quase na calçada e ali se põe a ler o jornal. Tarefa difícil, porque cada pedestre que ali passa faz questão de dar um alô para o seu Joaquim, que sempre de forma simpática retribui com um largo sorriso. Seus cabelos são brancos, brancos, com textura de algodão doce. As únicas coisas novas que parecem entrar ali são os clientes e a edição diária do jornal. O resto é de mil novecentos e bolinha. Por isso é tão autêntico. Lá dentro, apenas uma cadeira típica de barbeiro, linda, porém rasgada - comprada em 1951. Na parede, azulejos azuis dão o toque celestial.

Seu Joaquim não sabe da sua importância, mas ele representa um ato de resistência na megalópole. Sabemos que um barbeiro é figura quase extinta numa cidade como São Paulo. É bem provável que as crianças de hoje nem saibam o que é um barbeiro. Concluo ser um programa altamente cultural levar as crianças para conhecerem Seu Joaquim. Mas aviso que seria uma ofensa pedir para ele fazer um corte à La Justin Bieber.

Fico aqui pensando na barba com navalha.... que tipo de homem será esse que ainda faz barba com navalha? Creio ser também uma espécie em extinção.
Se eu fosse macho não perderia essa experiência por nada.

Informações:
Rua Horácio Lane, 19 - Vila Madalena
13 reais o corte e 7 reais a barba – tudo com navalha
2af das 12h às 18h / de 3ª f a 6af das 9h às 18h / Sab das 9h às 16h

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Reunião escolar e peep toe com unhas vermelhas não combinam

22 de fevereiro de 2011. Primeira reunião de pais da escolinha. O bairro é o Morumbi.

Às 18:30h, exatamente uma hora antes do evento, eu só consigo pensar com que roupa as pessoas vão para uma reunião dessas em São Paulo. Afinal de contas estamos no bairro mais emergente da capital. Tento escolher uma roupa com aquele ar de quem estava trabalhando em algo meio alternativo, tipo o que eu faço (ou o que eu tento fazer), que é escrever nas poucas horas vagas. Até passou pela minha cabeça tentar dar uma enganada e me passar por mãe normal, que trabalha em lugar normal e que se veste de jeito normal. Aqui em São Paulo, leia-se normal o estilo de vestir de secretária de multinacional. Muito scarpin, calças retas e casaquinhos ou taillers. Tudo na tonalidade dos cinzas, beges e pretos. Decido ser mais honesta no meu traje. Serei eu mesma. Ou melhor, serei o que aspiro ser. Saia e blusa da Totem com muita cor, que além de dar o ar tentando-ser-uma-mãe-moderna-e-cool ainda vem com o pretensioso toque morram-de-inveja-porque-eu-sou-carioca.

A primeira supresa foi ver um bando de mães modelo básico, sem excesso de jóias, nem de roupas excessivamente caretas e nem de caras ou peitos excessivamente plastificados. Mas surpresa de verdade, vem sempre de onde a gente menos espera: da professora. Sim, da professora. Aquela que eu esperava encontrar no mesmo uniforme que eu vi à tarde, resolve dar um upgrade na imagem. Eis que ela adentra a sala de aula - onde nós pais tentávamos nos acomodar nas mini cadeirinhas, fazendo eu me sentir num cenário bizarro do Tim Burton. Para minha total perplexidade, Tia Mariana resolveu colocar toda sua sexualidade para fora justamente no dia da primeira reunião de pais do jardim-de-infância. Mini saia justíssima preta, camiseta cinza também justíssima para valorizar seus peitões (que pelo tamanho excessivo seria valorizado mesmo por baixo de um moleton) e sapato peep toe altíssimo de verniz preto (se não sabe de qual modelo se trata, me desculpe, é muita falta de informação básica) com o detalhezinho das unhas dos pés vermelhas. Enquanto ela falava sobre a pauta da reunião eu só conseguia rezar para que ela não se sentasse nas mini cadeirinhas.

Mais uma supresa. Tia Mariana agiu com absoluta elegância e sentou-se de forma bem comportada (para alívio de todas as mulheres e provável decepção dos maridos). Cumpriu muito bem seu papel, dando segurança aos pais de que fizeram uma boa escolha para seus filhos. Às 20:40h eu saí da escola confiante na sua metodologia. E rezando para que Tia Mariana não me invente um modelito noivinha sexy na festa junina.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Olhar especial

O bom de não ter muita verba é que a gente precisa ser criativo. Assim, busco prazeres culturais a preço de banana.

A escolha de hoje foi a exposição do Thomas Farkas. Custo zero. E o melhor, no coração de Higienópolis - onde depois basta alguns passos para você se deliciar com um pão fresquinho na padaria Aracaju (eleito o melhor pãozinho da cidade não só por mim, mas também pela Carla Pernambuco!). Sim, sempre dou um jeito de colocar a comida no meio do caminho. Isso é bem cultural também, bem paulistano eu diria. Por isso eu amo o David LaChapelle, que eu sei, não tem nada a ver com o tema do post, mas preciso dizer que me vejo como a mulher que é esmagada pelo mega hambúrguer desta foto magistral aí embaixo.


Voltemos à exposição que deu origem ao post. O assunto aqui é o Farkas. É São Paulo.
Minha primeira reação ao descobrir que Thomas Farkas nasceu em Budapeste foi de pesar. Veio ainda pequeno para SP, coitadinho, onde ficou até sua morte. Tá certo que eu não conheço Budapeste, mas sou como o Chico Buarque: não preciso ir até lá para saber que é uma cidade incrível.

Thomaz Farkas retrata a alma da cidade nos anos 40 e 50.
Sua São Paulo tem peso pluma, nos ajuda a olhar com leveza e poesia a cidade e seu povo. Pensando bem, se ele tivesse ficado em Budapeste talvez não desenvolvesse olhar tão apurado. Concluo levianamente que não seria desafiado e estimulado visualmente.

Viajar na São Paulo de Farkas é uma delícia.
Vi charme na multidão do Pacaembu. Vi sapatos lustrosos de couro. Vi uma época em que meninos ainda subiam em árvore na capital. Vi as mais belas sombras do gradil do viaduto de Santa Efigênia.
Pela primeira vez, senti a sensação de saudosismo por uma São Paulo que eu não vivi.
Efeito Thomas Farkas.




ps: Farkas também registrou o Rio e Brasília magistralmente, mas nada me tocou mais do que as imagens de São Paulo.

Instituto Moreira Salles
Rua Piauí, 844 - Higienópolis.
De terça a domingo - até 03/04.
(de terça a sexta das 13h às 19h - sáb, dom e feriados das 13h às 18h)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

E o que dizer do Chi Fu ???

Simplesmente, o melhor chinês da cidade.

Confesso que não fui a nenhum outro. E nem quero. É como o polpetone do Jardim de Nápoli. Para que arriscar, né? Sabemos que nenhuma outra cantina irá superar a receita deles. Quando a gente tem a chance de conhecer essas preciosidades (que deveriam ser tombadas pelo patrimônio histórico da cidade!) sabemos que estamos diante de um momento histórico da nossa vida gastronômica.

No Chi Fu, a maior parte da população é chinesa. Ali só se fala o mandarim. Nem ouse querer falar em português. Esse já é o charme inicial. Ninguém ali se entende. Você pede guardanapo e a garçonete lhe traz um guaraná. Você pergunta qual o acompanhamento do pato e ela responde pato (?). Até você perceber que o melhor é olhar o que está sendo servido nas mesas vizinhas e apontar. Se preferir, vá ao cardápio e mostre o que você quer. Surpreendentemente, no cardápio os nomes dos pratos aparecem também em português. Qualquer coisa que você pedir vai ser uma boa pedida. Mas se é para dar uma dica, aí vai: sopa de frutos do mar, pato caramelado, arroz colorido, carne com legumes e camarão no vapor.

A decoração é de uma cafonice chinesa maravilhosa. Tudo muito dourado, muito Shangai. Se tirassem as pessoas daquele salão, eu me sentiria na mansão do satânico Dr No.
As mesas são comunitárias, as porções são mega size e o preço uma maravilha! Sai de 30 a 40 por pessoa. Mas atenção: só pagamento em dimdim.

A sobremesa, esqueça. Simplesmente não tem. É servido apenas um prato de melancia fatiada – por conta da casa!

Como o restaurante está sempre lotado, é melhor você ir muito cedo (meio dia! argh!) ou então naquele horário bem carioca de almoço, depois das três.

Pça. Carlos Gomes, 200, Liberdade, 3112-1698
(o telefone é só para constar, nem pense em ligar para reservar ou pedir informações)