Hoje o meu domingo está no top ten dos domingos felizes. Tudo por causa de uma galinha.
É isso mesmo. Resolvi me presentear com uma galinha. Não serei hipócrita em dizer que fiz isso para encher de felicidade a vida da minha família. Em um ímpeto de coragem, assumo que esse ato foi em prol da minha total e irrestrita satisfação em lambuzar meus dedos de gordura, chupar ossinhos saborosos da asinha e me encher de uma sensação indescritível de prazer.
Se você quiser sentir tudo isso e mais um pouco, o endereço do prazer fica logo ali na Vila Madalena, no Galinheiro Grill. Em cinco minutos - sem exagero - preenchi meu buraco existencial. A experiência não é nova. Já fui lá muitas vezes. Mas a experiência de levar a ave terapêutica para casa é inédita. E eu recomendo.
Entrei, pedi uma galinha no balcão, paguei a bagatela de vinte e seis reais com direito a uma farofa, me virei para o balcão em frente e pronto. Lá estava aquela churrasqueira maravilhosa, com aproximadamente vinte ditas cujas mortas e douradas, ardendo em chamas. Pausa para apreciar esse momento de pura emoção. Em segundos, o Seu Fulano (eu sei, uma heresia eu ter esquecido o seu nome), vestido impecavelmente de branco e com a precisão de um cirurgião, faz uma linda coreografia do esquartejamento da galinha. Tá-tá-tá! Pura poesia para meus ouvidos.
O aroma de ervas do tempero deve ter contribuído para aquele estágio da alma que alcancei. Não tenho dúvidas de que atingi o Nirvana.
Mas naquele ambiente de tamanha eficência e rapidez não há como uma pessoa se dar ao luxo de ocupar um mísero espaço no balcão por mais de cinco minutos. Meus segundos finais chegaram. Conferi o Seu Fulano jogar rusticamente os meus tão almejados pedaços de galinha em um indefectível saco transparente e segui rumo ao meu esconderijo.
Com minha habitual competência e voracidade finalizei o meu trabalho. Nem o menor vestígio do crime deixei.
Galinheiro Grill
Rua Inácio Pereira da Rocha, 231 – Esquina com a Fradique Coutinho
3816-3208 / 3816-6023 / 3796-9264
domingo, 25 de setembro de 2011
sábado, 17 de setembro de 2011
Independência, suor e reflexão
7 de setembro de 2011. Vai ficar na memória. Resolvi passar da maneira mais paulistana possível, que é correndo. Sim, porque 9 em cada 10 pessoas desse meu mundinho pequeno que gira em torno do Morumbi, Itaim, Jardins e adjacências, parecem obstinadas com esse negócio de corrida. No meu caso, é uma questão de consciência. Ou punição, pelas frequentes orgias alimentares.
Não só corri, como participei de uma prova no Parque da Independência. A ideia desse post não é falar dos meus dotes atléticos, até porque eu passei cada um dos 10 km tentando ultrapassar um japonês muito gordinho e (confesso!) muito humilhada com os vovozinhos que me ultrapassavam com enorme facilidade.
Tirando esses desgostos, o sentimento que dominou a minha manhã de 7 de setembro foi o encantamento. O impacto ao me daparar com o Museu do Ipiranga, no coração do parque, e seu deslumbrante jardim, jamais sairão da minha memória. Após passar por tantas regiões cinzentas, feias e decadentes, não imaginei encontrar tamanha beleza reinando naquele emblemático lugar. Direto do pesadelo urbano para o cenário de um romance francês.
Assim, durante todo o percurso da corrida, tentava entender como o entorno daquela maravilha de símbolo da cidade, aquele exemplar da mais bela arquitetura e natureza, ficou tão decadente. Não há como evitar a tristeza de ver no que essa cidade se transformou. E não há como não pensar que existe algo de errado na lógica da formação das cidades.
Passando para esse clima de reflexão, a melhor maneira de se terminar esse texto é com as opiniões contundentes, filosóficas, poéticas e interessantes daquele que considero o maior de todos os pensadores vivos desse nosso país, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, hoje com oitenta e três anos.
Sobre São Paulo: "monumental, contraditória e com aspectos de desastre".
Sobre o conceito de cidade: "A cidade existe na mente do homem como um desejo. Se você imaginá-la como um espaço de pura especulação e negócio, ela jamais poderá ser bela."
Sobre a feiura da cidade: "Eu tenho a impressão de que antes da cidade ficar feia, são as pessoas que enfeiam"
Sobre o morar na cidade: "Os donos do dinheiro já abandonaram a cidade. Que ela seja, então, do povo. Eu tenho a impressão de que o futuro do mundo será feito pelos que vêm de baixo. Aqueles que compreendem as virtudes da cidade."
Sobre os condomínios privados: "E essa rodovia que foi projetada para transportar mercadorias fica repleta de idiotas que dizem que moram num condomínio privado. Privado do quê? O pessoal não presta atenção nem nas palavras porque se o condomínio é privado, está se privando de alguma coisa. Não estou fazendo um jogo de palavras, é privado porque é privativo, pertence só a eles. Mas também os priva de muita coisa. Algo como o estudante de medicina poder se apaixonar pela bailarina. Isso não acontece em condomínio fechado."
Não há como se pensar que Paulo Mendes da Rocha seja simplesmente um arquiteto. Acho comovente vê-lo refletir sobre como a vida enclausurada em condomínios nos afasta dos lindos acasos da vida, como a possibilidade do estudante de medicina poder se apaixonar pela bailarina.
Nós, que aqui moramos, devemos ser devotos de lugares como o Parque da Independência, que tem o poder de nos fazer conectar com algo de belo dentro de nós. Um lugar onde a beleza dos mais imprevisíveis encontros é possível.
Museu do Ipiranga
Parque da Independência - Ipiranga
Não só corri, como participei de uma prova no Parque da Independência. A ideia desse post não é falar dos meus dotes atléticos, até porque eu passei cada um dos 10 km tentando ultrapassar um japonês muito gordinho e (confesso!) muito humilhada com os vovozinhos que me ultrapassavam com enorme facilidade.
Tirando esses desgostos, o sentimento que dominou a minha manhã de 7 de setembro foi o encantamento. O impacto ao me daparar com o Museu do Ipiranga, no coração do parque, e seu deslumbrante jardim, jamais sairão da minha memória. Após passar por tantas regiões cinzentas, feias e decadentes, não imaginei encontrar tamanha beleza reinando naquele emblemático lugar. Direto do pesadelo urbano para o cenário de um romance francês.
Assim, durante todo o percurso da corrida, tentava entender como o entorno daquela maravilha de símbolo da cidade, aquele exemplar da mais bela arquitetura e natureza, ficou tão decadente. Não há como evitar a tristeza de ver no que essa cidade se transformou. E não há como não pensar que existe algo de errado na lógica da formação das cidades.
Passando para esse clima de reflexão, a melhor maneira de se terminar esse texto é com as opiniões contundentes, filosóficas, poéticas e interessantes daquele que considero o maior de todos os pensadores vivos desse nosso país, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, hoje com oitenta e três anos.
Sobre São Paulo: "monumental, contraditória e com aspectos de desastre".
Sobre o conceito de cidade: "A cidade existe na mente do homem como um desejo. Se você imaginá-la como um espaço de pura especulação e negócio, ela jamais poderá ser bela."
Sobre a feiura da cidade: "Eu tenho a impressão de que antes da cidade ficar feia, são as pessoas que enfeiam"
Sobre o morar na cidade: "Os donos do dinheiro já abandonaram a cidade. Que ela seja, então, do povo. Eu tenho a impressão de que o futuro do mundo será feito pelos que vêm de baixo. Aqueles que compreendem as virtudes da cidade."
Sobre os condomínios privados: "E essa rodovia que foi projetada para transportar mercadorias fica repleta de idiotas que dizem que moram num condomínio privado. Privado do quê? O pessoal não presta atenção nem nas palavras porque se o condomínio é privado, está se privando de alguma coisa. Não estou fazendo um jogo de palavras, é privado porque é privativo, pertence só a eles. Mas também os priva de muita coisa. Algo como o estudante de medicina poder se apaixonar pela bailarina. Isso não acontece em condomínio fechado."
Não há como se pensar que Paulo Mendes da Rocha seja simplesmente um arquiteto. Acho comovente vê-lo refletir sobre como a vida enclausurada em condomínios nos afasta dos lindos acasos da vida, como a possibilidade do estudante de medicina poder se apaixonar pela bailarina.
Nós, que aqui moramos, devemos ser devotos de lugares como o Parque da Independência, que tem o poder de nos fazer conectar com algo de belo dentro de nós. Um lugar onde a beleza dos mais imprevisíveis encontros é possível.
Museu do Ipiranga
Parque da Independência - Ipiranga
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Feira à noite
Se você acha que fazer feira à noite pode ser roubada, estou aqui para dar meu testemunho.
Antes, é preciso dizer que São Paulo tem feiras livres incríveis e que muitos moradores ainda mantém essa maravilhosa tradição. As que recomendo são a Feira do Pacaembu, com seu maravilhoso e imbatível Pastel do Zé (se bem que também tem um tal de Pastel da Maria que acabou de ser premiado como o melhor pastel da cidade e, falha minha, ainda não provei) e a charmosa Feira da Vila Madalena. Ir a uma dessas feiras em um belo sábado e se acabar em um desses recheadíssimos pastéis é um programaço.
Mas eu andava louca era para fazer uma feirinha à noite. Quando li sobre essa possibilidade, achei incrível. Ainda mais no Ceagesp, o maior centro abastecedor de frutas e legumes da capital. Imagina poder comprar delícias fresquinhas em plena quarta-feira à noite? Que programa descoladérrimo, pensava eu inocentemente. Imagina que baita dica para aqueles que ralam o dia inteiro poderem terminar seu dia com charme e um pit stop nesse centro de conveniência a céu aberto ?
O SONHO:
Vislumbrei uma coisa assim com clima meio Soho meio Tribeca meio Candem Town ou qualquer coisa assim.
A REALIDADE:
Ao sair de casa você já acorda rapidinho de qualquer eventual devaneio. Ir a Vila Leopoldina significa pegar a Marginal. Não é preciso ser vidente para saber o que acontece com uma pessoa que sai do Morumbi em direção a Vila Leopoldina às seis da tarde em plena quarta-feira. E para completar o cenário de horror, acrescento que eu estava com marido e filhos.
Após uns quarenta e cinco minutos de engarrafamento, uma das crianças já roncando e babando no estofado, eis que chegamos ao entorno do Ceagesp. Tentarei ser o mais fiel ao quadro, sem carregar na tinta: tive a sensação de estar em volta do Carandiru. Não que eu já tenha ido lá, mas desconfio que à noite deve ser páreo duro com o clima lúgubre e sinistro do entorno do Ceagesp.
Finalmente achamos o portão 7. Aquilo parecia mesmo ser um oásis. Movimento de carrinhos de feira, gente falando alto, frutas e legumes fresquíssimos, peixes de primeira por dez reais o kilo, barraca de japonês, churrasquinho, pastel, enfim, o maravilhoso mundo povão. Finalmente me senti em casa.
Fazer feira à noite em São Paulo é para quem tem alto poder de abstração. É preciso abstrair o caminho, abstrair o entorno, abstrair o tempo no trânsito. Se conseguir esse feito, pode ser um programa pitoresco.
Ceagesp:
Av. Dr. Gastão Vidigal, 1946 - Vila Leopoldina
sábados: 6h às 12h30 - domingos: 7h às 13h – no Pavilhão MLP – entrada pelo portão 3
quartas-feiras: 14h às 22h – no Pavilhão PBCF – entrada pelo portão 7
Feira do Pacaembu:
Praça Charles Miller, s/nº, terças, quintas e sábados - das 7:30h às 13h
Feira da Vila Madalena:
Rua Mourato Coelho - das 7:30h às 13h
Antes, é preciso dizer que São Paulo tem feiras livres incríveis e que muitos moradores ainda mantém essa maravilhosa tradição. As que recomendo são a Feira do Pacaembu, com seu maravilhoso e imbatível Pastel do Zé (se bem que também tem um tal de Pastel da Maria que acabou de ser premiado como o melhor pastel da cidade e, falha minha, ainda não provei) e a charmosa Feira da Vila Madalena. Ir a uma dessas feiras em um belo sábado e se acabar em um desses recheadíssimos pastéis é um programaço.
Mas eu andava louca era para fazer uma feirinha à noite. Quando li sobre essa possibilidade, achei incrível. Ainda mais no Ceagesp, o maior centro abastecedor de frutas e legumes da capital. Imagina poder comprar delícias fresquinhas em plena quarta-feira à noite? Que programa descoladérrimo, pensava eu inocentemente. Imagina que baita dica para aqueles que ralam o dia inteiro poderem terminar seu dia com charme e um pit stop nesse centro de conveniência a céu aberto ?
O SONHO:
Vislumbrei uma coisa assim com clima meio Soho meio Tribeca meio Candem Town ou qualquer coisa assim.
A REALIDADE:
Ao sair de casa você já acorda rapidinho de qualquer eventual devaneio. Ir a Vila Leopoldina significa pegar a Marginal. Não é preciso ser vidente para saber o que acontece com uma pessoa que sai do Morumbi em direção a Vila Leopoldina às seis da tarde em plena quarta-feira. E para completar o cenário de horror, acrescento que eu estava com marido e filhos.
Após uns quarenta e cinco minutos de engarrafamento, uma das crianças já roncando e babando no estofado, eis que chegamos ao entorno do Ceagesp. Tentarei ser o mais fiel ao quadro, sem carregar na tinta: tive a sensação de estar em volta do Carandiru. Não que eu já tenha ido lá, mas desconfio que à noite deve ser páreo duro com o clima lúgubre e sinistro do entorno do Ceagesp.
Finalmente achamos o portão 7. Aquilo parecia mesmo ser um oásis. Movimento de carrinhos de feira, gente falando alto, frutas e legumes fresquíssimos, peixes de primeira por dez reais o kilo, barraca de japonês, churrasquinho, pastel, enfim, o maravilhoso mundo povão. Finalmente me senti em casa.
Fazer feira à noite em São Paulo é para quem tem alto poder de abstração. É preciso abstrair o caminho, abstrair o entorno, abstrair o tempo no trânsito. Se conseguir esse feito, pode ser um programa pitoresco.
Ceagesp:
Av. Dr. Gastão Vidigal, 1946 - Vila Leopoldina
sábados: 6h às 12h30 - domingos: 7h às 13h – no Pavilhão MLP – entrada pelo portão 3
quartas-feiras: 14h às 22h – no Pavilhão PBCF – entrada pelo portão 7
Feira do Pacaembu:
Praça Charles Miller, s/nº, terças, quintas e sábados - das 7:30h às 13h
Feira da Vila Madalena:
Rua Mourato Coelho - das 7:30h às 13h
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