sábado, 26 de junho de 2010

Vida longa ao Botta Gallo!

Infelizmente não posso indicar esse oásis no Manual de Sobrevivência.
Merecer ele merece. E com louvor.
Mas lá só entram coisas que já passaram da fase do ôba-ôba. Apenas os que vieram pra ficar.
Boa dica de um entrevistado de peso - Marcello Serpa. Também conhecido como o cara da Almap.

O Bottega Botta Gallo só tem seis meses de vida. Até entra no Manual, mas uma mera citação do entrevistado, que não dá maiores detalhes desta maravilha.

Resolvi dar um pulo lá. A idéia era só tomar alguma coisa. Na minha filosofia, não dá pra cometer dois excessos de uma só vez. É comer ou beber.

De cara, o ambiente seduz. Charmoso e aconchegante, do jeito que gosto. Madeira rústica e paredes de tijolo. Musiquinha italiana gostosa, tudo no tom. Gostei dos galos espalhados – quadrinhos, objetos, esculturas..

A localização é um ponto fortíssimo, no trecho mais bacana da Jesuíno Arruda.

O grande barato do lugar é que oferece receitas italianas para serem partilhadas, como se fossem tapas. Começo a olhar as porções maravilhosas servidas nas mesas ao lado. Não tenho outra opção. Farei um combinado de excessos. Sai uma polenta com lascas de rabada e um nhoque grelhado em azeite com ricota e tomates frescos.

Como apreciadora de uma rabada bem feita, confesso que desconfiei que aquele tão charmoso e sofisticado local fosse capaz de realizar essa preciosidade com simplicidade e sem afetação . E um sabor inesquecível.
O nhoque foi dica do Marcio, simpatia de garçom. Sabe-se lá como conseguem grelhar o nhoque um a um. Só posso dizer que é uma experiência gastronômica das melhores.

São Paulo é assim, sabe impressionar.

Vida longa ao Botta Gallo!


Rua Jesuíno Arruda, 520 - Itaim Bibi - tel: 11 3078-2858

terça-feira, 22 de junho de 2010

Apelo

Odeio quem diz que as coisas têm que acabar no seu auge.
Não acredito nisso.
Vida longa ao casamento.
Vida longa às séries de TV.
Vida longa às férias de verão.
Vida longa aos lugares especiais.
Queria mesmo é falar desses lugares.
É tão bom quando descobrimos pequenos achados.
No fundinho de uma mercearia, há sete anos mora o Lá na Quitanda.
Pra cariocas, um oásis.
Comidinha deliciosa, de fazenda mineira. Nem dei falta da carne.
Anote aí. Rua Rodésia. Vila Madalena.
Sei que ele não vai acabar. Mas seu dono cismou de ir pra Minas.
Sou obrigada a fazer o apelo.
Vida longa às coisas especiais.
Alguém aí quer comprar?

sábado, 19 de junho de 2010

Mocarzel, o paulistano de alma.

Adoro ir ao Rio de Janeiro. A frase denuncia que Evaldo Mocarzel não é mais carioca. Nenhum carioca trata o Rio com tanta cerimônia. Não precisa de nome e sobrenome. Só Rio.

Sua voz engana. Parece se tratar de um legítimo carioca. De Itacoatiara pro Anhangabaú. Literalmente. Largou um belo dia de sol na praia de Niterói, pegou o avião com o corpo ainda cheio de sal e aterrissou direto no centro de SP. Durante a viagem, olhando pra baixo, se perguntava: O que é que eu vim fazer aqui?
Nossa conversa passa pela sua trajetória de 20 anos em São Paulo, culminando em seu amor devoto à capital.

Não tive coragem de dizer o que ia dizer. Omiti os meus motivos pra gostar de São Paulo. Vergonha de expor minha pequenez pra quem vê beleza no trânsito, na decadência e na solidão de São Paulo. Ainda não concluí se ele é um homem evoluído ou um louco cego de paixão. Interessante. Reforça minha teoria da inadequação. A migração dos seres inadequados ao meio ambiente carioca é um sucesso quando rumam para São Paulo. A constatação de que Mocarzel já foi um inadequado não é minha. É do próprio. Corta pra adolescência do entrevistado. Sábado, céu azul, sol, galera na praia enchendo a cara. Exceto o estranho adolescente Evaldo, que prefere a companhia de gente de nome esquisito. Bergman, Truffaut. O tempo passou e o menino estranho se converteu em um paulistano de alma. Fundamentalista, como ele diz.

Mocarzel falou que os piores cariocas são os nascidos em Minas e no Sul. Será que os piores paulistanos são os que nascem fora daqui? Preciso refletir. Debater. Lembro que preciso voltar a um velho entrevistado. Outro inadequado que virou paulistano. João Luiz Woerdenbag Filho. Ou simplesmente Lobão.

terça-feira, 15 de junho de 2010

O Lado B de São Paulo.

Você precisa conhecer o Mocarzel.
Mais uma vez a ignorância.
Não tinha idéia da importância dessa pessoa.
Meu entrevistado ilustre - Ruy Castro - me indicou alguém e sou obrigada a seguir essa pista.
Você precisa conhecer esse cara!
Rápido, google nele. Mocarzel é de Niterói. Em São Paulo há quase 20 anos. Documentarista. Discute questões sociais. O cara é profundo. Muitos prêmios. Sua trilogia de documentários se chama "À Margem". À margem do concreto, à margem do lixo e por aí vai. Esse cara entende de Sobrevivência em São Paulo.
Decifra o lado B da cidade.
Email pra ele. O cara dos assuntos espinhosos exala doçura. É um apaixonado por São Paulo. Diz que foi abduzido.
Já temos algo em comum.
Adoro São Paulo. Confesso a ele meus motivos?
Adoro São Paulo porque não tenho idéia de onde fica o Capão Redondo.
Porque fico dias sem passar pelo Tietê.
Porque meu mundo é o Morumbi.
Assim é São Paulo.
São Paulo é pra quem pode.
Quem pode constrói a sua própria cidade.
A minha é bem longe da realidade.
Vai ser bom conhecer o Mocarzel.

sábado, 12 de junho de 2010

Uma carioca que não tuita

Estou morta.
Foi a conclusão que cheguei ontem após sair do YouPix.
Não acredito! Você não sabe o que é YouPix?
Tá bom, eu explico. O evento que traz o melhor da web para o mundo real.
A frase não é minha. É o slogan do evento.
E o que isso tem a ver com o Manual?
Tudo.
Minhas conselheiras tecnológicas - na verdade duas, Ana e Roberta - não admitem que eu simplesmente não faça parte do novo mundo. É isso mesmo, eu não tuito. E nem sei como me relacionar no facebook.
Elas sentenciam. Manual e blog sem twitter, nem pensar.

Aí surge o YouPix. Minha chance de me redimir, me salvar.
De cara, vejo que sou jurássica.
Minha clássica bota de couro é inadequada.
Devia ter investido em um nike retrô.
Meu notebook à tiracolo não ajuda. Só denuncia meu atraso.

Logo na entrada, a recepcionista pergunta sobre meu twitter. Fiz que não ouvi e segui rumo ao auditório. Confesso que o conteúdo do forum não me atraiu muito. Mas quando li que o mediador seria um User Evangelist da Microsoft, achei imperdível. O que diabos seria isso? Seria ele uma pessoa ou um robô? Um cara desses deve definir nosso futuro virtual.
Sai de lá sem entender que raio de profissão é essa. Mas aprendi que essa gente entende mesmo do babado. São feras em comportamento, relacionamento. Vivem intensamente fora da websfera. São cultos, estudiosos do assunto. O evento já valeu pela minha conclusão. Se quem faz o mundo virtual é assim, estamos em boas mãos.

Depois foi a vez do debate das mulheres. Nada muito conclusivo, como era de se esperar. Mas quem disse que elas querem concluir? O importante é debater.
E elas são cheias de estilo. Jornalistas, modernas, independentes, criativas.
Quero ser que nem elas quando crescer.
Todas têm blog, twitter, facebook, pertencem a todas as redes sociais.
Estou exausta. Lembro que mal consigo dar conta de ler o jornal.
Nada me convenceu. Morta continuarei.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Peripécias de uma carioca em São Paulo tentando desesperadamente finalizar o raio de um manual de sobrevivência - Parte 1

Nunca li o Anjo Pornográfico. Nem a biografia do Garrincha. Muito menos a da Carmem Miranda. Não sei ao certo o que vim fazer aqui. A arte e a ciência da biografia. Este é o tema do curso. Ruy Castro aqui, na minha frente. Uma platéia silenciosa de pagantes absorve cada palavra do mestre – enquanto eu concluo que jamais escreverei uma biografia. Não tenho essa obsessão pela informação. E jamais dedicaria três anos ininterruptos a um único personagem. Nem vamos falar da competência necessária. Volto minha atenção ao que ele diz. O biógrafo precisa de muita bagagem. No meu caso, só roubando.

Parte final. Abrem para as perguntas. Vocês sentirão vergonha por mim. Mas eu precisava matar essa dúvida. Ele insistiu durante toda a aula que não é possível biografar alguém vivo. Mas como ele foi capaz de biografar o Washington Olivetto? Abro a boca. Começo a perguntar. Vejo a cara de interrogação que o autor faz e percebo meu erro. Grosseiro. Imperdoável. Admito ter uma certa propensão pra confundir coisas. Nunca sei se o Scarface era Robert de Niro ou Al Pacino. Mas na cara do autor, o furo é imperdoável. Me dou conta que não foi ele quem escreveu sobre a vida do publicitário. Agora é tarde. Fernando Morais.

Peripécias de uma carioca em São Paulo tentando desesperadamente finalizar o raio de um manual de sobrevivência - Parte 2

Para que os leitores – se é que existe mais de um - não me considerem tão ignorante, me sinto obrigada a dizer que li tudo o que o cara mencionado no post acima escreveu sobre bossa nova, Ipanema e Carnaval.
Esse cara me ajudou a entender o que é ser carioca. E como eu amo ser carioca.
Esse cara me mostrou ser possível escrever bem sem afetação. Com charme. Com humor. E tudo ao mesmo tempo!
É sofisticado sem parecer sofisticado. Sem excessos.
Um padrão a ser perseguido.
Sinto uma vergonha profunda.
Preciso ler o Anjo Pornográfico. E a biografia do Garrincha.
Não posso esquecer a da Carmem Miranda.

Peripécias de uma carioca em São Paulo tentando desesperadamente finalizar o raio de um manual de sobrevivência - Parte 3

Ponto de virada do meu roteiro. A farsa acaba. Confesso. Tudo mentira.
Desde o começo, eu sabia exatamente o que eu queria no tal curso de biografia relatado no meu primeiro post. Esqueceram que eu tenho um Manual de Sobrevivência em São Paulo pra terminar? Sozinha me sinto insegura. Não chego a lugar nenhum. Preciso de gente grande ao meu lado. Nada melhor do que o Ruy Castro pra encorpar o meu time peso pesado de entrevistados.

A tortura começa. Quatro dias de curso. Primeiro dia. Preciso esperar os intervalos. Iniciarei um rápido bate-papo com o autor. Coisas inesperadas acontecem. Fãs se aglomeram ao redor do ídolo. Espécimes paulistanos são seres diferentes. Tietam indiscriminadamente. Ruy Castro é uma espécie de pop star. Flashes aos montes. Pedidos de dedicatória. Estou vendo a hora que a fã vai levantar a blusa. Autógrafo no seio. Mais flashes. Não acaba nunca.

Espero o dia seguinte. Segunda aula. Estava com tudo na ponta da língua. Abrem-se a perguntas no final. Acontece o furo do século. Não repetirei o que aconteceu. Humilhante demais. Ver relato do furo no segundo parágrafo do post Peripécias parte 1. Minha dignidade foi abalada. Não há condição psicológica para uma entrevista.

Terceiro dia. Final da aula. Flashes, dedicatórias, autógrafos. Consigo me aproximar. Inicio o papo falando de uma amiga em comum. Vamos chamá-la de E. P. Não pensem se tratar de uma menor. Ruy Castro não é pedófilo. Abrevio o nome dela em respeito ao seu estilo reservado. Intelectual respeitadíssima. Não quer holofote. Embora ser citada nesta crônica esteja muito longe de significar uma alta exposição na mídia.

Voltando ao papo. Ele me recebe muito bem. Falar de E.P foi certeiro. Excelente referência. No mínimo, ele pode presumir que não sou uma fã psicopata. Obrigada E.P.
O papo não podia ser dos melhores. Seja na maneira de escrever ou de falar, sua prosa é deliciosa.
Começa falando de sua vinda pra São Paulo. Ao contrário de muitos cariocas, não veio por estar decadente no Rio. Era o ano de 1979. Já era um respeitadíssimo jornalista. Pupilo de Paulo Francis. Também não veio por motivos políticos. Sua motivação é das mais prosaicas. Ele não quer ir pra São Paulo. Ele quer é fugir do Rio. De um amor mal resolvido.

A entrevista com esse ícone da nossa elite intelectual toma um rumo imprevisível.
Gira em torno das peripécias sexuais do jovem Ruy na paulicéia. Concluo que uma bimbada pode mudar o destino de um homem. Nem Ruy Castro está imune.

Não consegui sair desta etapa. O tempo acabou. Resta-me esperar sua volta de Portugal.