terça-feira, 19 de outubro de 2010

Minha primeira bienal

O programa mais divertido e instigante da cidade é, sem dúvida, a bienal.
Confesso que sempre a desprezei. Mas como preciso de assunto para meu blog, lá fui eu rumo a minha primeira bienal.

Ali você vai ver um pouco de tudo. Verdade seja dita, muito de tudo. E de arte, procurando bem, achará um pouco.

O fato de não ter credenciais para dizer o que é arte e o que não é, torna minha análise bem mais irresponsável e descomprometida.

Logo na entrada, um piano de cauda fincado em cima de um pequeno lago seco de cera. Imediatamente, abre-se um balão imaginário com “???” acima da minha cabeça. Não sabia se deveria esperar um pianista ou não. É curioso nosso comportamento na bienal. Ficamos meio sem jeito, sem saber o que fazer diante de certas obras, assim, tão modernas e de vanguarda.

Decido então ir para frente de uma tevê. Imagem de umas vinte pessoas em círculo, vestidas de branco, cada uma com um extintor de incêndio na mão. De repente, todas apertam o extintor e jogam água uma nas outras. Nossa, que divertido, pensei. Leio que este filme faz parte da série “Guerra é guerra”. Sou mesmo uma mãe insensível. Como me arrependo daquele dia que acabei com a arte do meu pequeno João. Ele e seus amigos em roda. Um, dois, três e já. Guerra de isopor picado. Quase os matei. Nunca é tarde para um arrependimento. Filho, desculpe-me por ter interrompido a sua performance. Vejo, agora, que você tem um futuro promissor como artista.

Ando alguns metros e vejo uma pequena construção. Paredes de tijolos, sem nenhum acabamento, formando uma pequena casa. Por dentro, algumas paredes revestidas de capas de livro. Muito me lembrou um pequeno casebre de favela. E só. Eis que me deparo com o seguinte texto, que define o espaço, denominado “ Longe daqui, aqui mesmo”:
“Esse terreiro reúne obras que aspiram a criação daquilo que não é, mas um dia poderá vir a ser”.
Achei muito bonito e profundo. Além de não ser capaz de associar o que via ao conteúdo do que lia, jamais imaginei que um lugar como esse poderia ser chamado de arte. Paro para refletir se a obra em si é tão importante. Será que se colocasse o nome deste lugar de “ casinha de favela”, ainda teria o mesmo impacto? Continuaria sendo arte?

Saio dali refletindo sobre os limites da arte, se é que existem. E avisto um lugar chamado Centro de Pesquisa Sobre a Normalidade Brasileira. Definitivamente, a coisa mais interessante que vi por ali. Uma verdadeira investigação antropológica sobre o ser atual. Especificamente, o ser paulistano, que também é meu objeto de estudo. Jimmie Durham é o pesquisador. Aquele espaço, ele preenche de fatos e evidências sobre a cidade e seu povo. Uma das primeiras observações ali descritas é que na frente do prédio da Bienal tem um monumento em homenagem ao pé de café. O mesmo café que destruiu as florestas de São Paulo. Triste ironia!

E para Jimmie Durham, como é o bandeirante dos tempos atuais? Como ele é hoje, aquela figura que desbravava as terras paulistanas em busca de riqueza? Um manequim em uma vitrine retrata o que ele pensa do Bandeirante 2010: um homem vestido de terno bem cortado, sapato social, relógio de ouro, o inseparável blackberry, pasta preta, tacos de golf e um revólver pendurado na cintura. Olho para o lado e observo exemplares de bandeirantes modernos, andando pela bienal.

Confesso que fiquei cansada de ver tanta coisa que nada parecia com arte. Mas, definitivamente, me impressionei com tanta provocação. Nunca pensei que percorrendo apenas metade da bienal, seria obrigada a refletir sobre tanta coisa em tão pouco tempo.

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