Na minha última ida ao Rio me empenhei ao máximo em encontrar um Rio decadente. Tantos amigos cariocas em São Paulo que falam mal do Rio... Já estava quase me convencendo que a cidade não vale mais nada.
Na zona sul, onde costumo ficar, o tempo parece não ter passado. Relembro minha antiga rotina de carioca. Passo cumprimentando os porteiros, o jornaleiro, o seu guarda, encontro velhos amigos andando na rua, volto do boteco a pé, quase madrugada. Ô Rio decadente!
Vou a São Cristóvão, vejo que está incrível. Novos empreendimentos, tudo em paz ao redor da Quinta da Boavista. Na volta dou um pulo no Saara, aquele movimento incessante e aquelas novidades maravilhosas. Saio de lá feliz com meu guarda-chuva bem chamativo, com reprodução de fotos dos Arcos da Lapa e do Cristo. E ainda consigo dar um pulo no Villarino, um dos bares preferidos do nosso poeta Vinícius. Saboreio um rissole de camarão e um bolinho de bacalhau que continuam impecáveis. Ô Rio decadente!
Vou ao baixo bebê com meu pequeno, curtimos um sol incrível, tomamos um suco de fruta de conde que não é de polpa no Polis. Ô Rio decadente!
Sou perseguida por um carro da PM, o policial me diz que é uma operação de rotina. Paro na altura da Rocinha e me surpreendo ao ser tratada por um policial de forma educadíssima. Ele me diz que estão dando dura em qualquer carro, de forma aleatória, porque gente do mal também anda em carro importado como o meu. Ô Rio decadente!
Vou a um show de jazz na Rua Dias Ferreira, cheio de gente interessante e bonita. Vi famílias inteiras e crianças, tarde da noite, curtindo um jazzinho a céu aberto. Ô Rio decadente!
Aproveito meu último dia para uma orgia gastronômica. Comi, rezando, uma rabada no Pavão Azul, em Copacabana. E a noitinha, tive a cara-de-pau de sentir fome e me esbaldei com os famosos bolinhos de aipim com camarão do botequim Chico e Alaíde. Ô Rio decadente!
Volto para São Paulo cheia de boas recordações e saudades de um Rio tão decadente.
Obs: Você deve estar se perguntando o que essa minha visão do Rio tem a ver com um blog sobre sobrevivência em SP. Não sei responder ao certo. Talvez porque eu acredite que para amar São Paulo não seja necessário você se voltar contra o Rio.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Minha primeira bienal
O programa mais divertido e instigante da cidade é, sem dúvida, a bienal.
Confesso que sempre a desprezei. Mas como preciso de assunto para meu blog, lá fui eu rumo a minha primeira bienal.
Ali você vai ver um pouco de tudo. Verdade seja dita, muito de tudo. E de arte, procurando bem, achará um pouco.
O fato de não ter credenciais para dizer o que é arte e o que não é, torna minha análise bem mais irresponsável e descomprometida.
Logo na entrada, um piano de cauda fincado em cima de um pequeno lago seco de cera. Imediatamente, abre-se um balão imaginário com “???” acima da minha cabeça. Não sabia se deveria esperar um pianista ou não. É curioso nosso comportamento na bienal. Ficamos meio sem jeito, sem saber o que fazer diante de certas obras, assim, tão modernas e de vanguarda.
Decido então ir para frente de uma tevê. Imagem de umas vinte pessoas em círculo, vestidas de branco, cada uma com um extintor de incêndio na mão. De repente, todas apertam o extintor e jogam água uma nas outras. Nossa, que divertido, pensei. Leio que este filme faz parte da série “Guerra é guerra”. Sou mesmo uma mãe insensível. Como me arrependo daquele dia que acabei com a arte do meu pequeno João. Ele e seus amigos em roda. Um, dois, três e já. Guerra de isopor picado. Quase os matei. Nunca é tarde para um arrependimento. Filho, desculpe-me por ter interrompido a sua performance. Vejo, agora, que você tem um futuro promissor como artista.
Ando alguns metros e vejo uma pequena construção. Paredes de tijolos, sem nenhum acabamento, formando uma pequena casa. Por dentro, algumas paredes revestidas de capas de livro. Muito me lembrou um pequeno casebre de favela. E só. Eis que me deparo com o seguinte texto, que define o espaço, denominado “ Longe daqui, aqui mesmo”:
“Esse terreiro reúne obras que aspiram a criação daquilo que não é, mas um dia poderá vir a ser”.
Achei muito bonito e profundo. Além de não ser capaz de associar o que via ao conteúdo do que lia, jamais imaginei que um lugar como esse poderia ser chamado de arte. Paro para refletir se a obra em si é tão importante. Será que se colocasse o nome deste lugar de “ casinha de favela”, ainda teria o mesmo impacto? Continuaria sendo arte?
Saio dali refletindo sobre os limites da arte, se é que existem. E avisto um lugar chamado Centro de Pesquisa Sobre a Normalidade Brasileira. Definitivamente, a coisa mais interessante que vi por ali. Uma verdadeira investigação antropológica sobre o ser atual. Especificamente, o ser paulistano, que também é meu objeto de estudo. Jimmie Durham é o pesquisador. Aquele espaço, ele preenche de fatos e evidências sobre a cidade e seu povo. Uma das primeiras observações ali descritas é que na frente do prédio da Bienal tem um monumento em homenagem ao pé de café. O mesmo café que destruiu as florestas de São Paulo. Triste ironia!
E para Jimmie Durham, como é o bandeirante dos tempos atuais? Como ele é hoje, aquela figura que desbravava as terras paulistanas em busca de riqueza? Um manequim em uma vitrine retrata o que ele pensa do Bandeirante 2010: um homem vestido de terno bem cortado, sapato social, relógio de ouro, o inseparável blackberry, pasta preta, tacos de golf e um revólver pendurado na cintura. Olho para o lado e observo exemplares de bandeirantes modernos, andando pela bienal.
Confesso que fiquei cansada de ver tanta coisa que nada parecia com arte. Mas, definitivamente, me impressionei com tanta provocação. Nunca pensei que percorrendo apenas metade da bienal, seria obrigada a refletir sobre tanta coisa em tão pouco tempo.
Confesso que sempre a desprezei. Mas como preciso de assunto para meu blog, lá fui eu rumo a minha primeira bienal.
Ali você vai ver um pouco de tudo. Verdade seja dita, muito de tudo. E de arte, procurando bem, achará um pouco.
O fato de não ter credenciais para dizer o que é arte e o que não é, torna minha análise bem mais irresponsável e descomprometida.
Logo na entrada, um piano de cauda fincado em cima de um pequeno lago seco de cera. Imediatamente, abre-se um balão imaginário com “???” acima da minha cabeça. Não sabia se deveria esperar um pianista ou não. É curioso nosso comportamento na bienal. Ficamos meio sem jeito, sem saber o que fazer diante de certas obras, assim, tão modernas e de vanguarda.
Decido então ir para frente de uma tevê. Imagem de umas vinte pessoas em círculo, vestidas de branco, cada uma com um extintor de incêndio na mão. De repente, todas apertam o extintor e jogam água uma nas outras. Nossa, que divertido, pensei. Leio que este filme faz parte da série “Guerra é guerra”. Sou mesmo uma mãe insensível. Como me arrependo daquele dia que acabei com a arte do meu pequeno João. Ele e seus amigos em roda. Um, dois, três e já. Guerra de isopor picado. Quase os matei. Nunca é tarde para um arrependimento. Filho, desculpe-me por ter interrompido a sua performance. Vejo, agora, que você tem um futuro promissor como artista.
Ando alguns metros e vejo uma pequena construção. Paredes de tijolos, sem nenhum acabamento, formando uma pequena casa. Por dentro, algumas paredes revestidas de capas de livro. Muito me lembrou um pequeno casebre de favela. E só. Eis que me deparo com o seguinte texto, que define o espaço, denominado “ Longe daqui, aqui mesmo”:
“Esse terreiro reúne obras que aspiram a criação daquilo que não é, mas um dia poderá vir a ser”.
Achei muito bonito e profundo. Além de não ser capaz de associar o que via ao conteúdo do que lia, jamais imaginei que um lugar como esse poderia ser chamado de arte. Paro para refletir se a obra em si é tão importante. Será que se colocasse o nome deste lugar de “ casinha de favela”, ainda teria o mesmo impacto? Continuaria sendo arte?
Saio dali refletindo sobre os limites da arte, se é que existem. E avisto um lugar chamado Centro de Pesquisa Sobre a Normalidade Brasileira. Definitivamente, a coisa mais interessante que vi por ali. Uma verdadeira investigação antropológica sobre o ser atual. Especificamente, o ser paulistano, que também é meu objeto de estudo. Jimmie Durham é o pesquisador. Aquele espaço, ele preenche de fatos e evidências sobre a cidade e seu povo. Uma das primeiras observações ali descritas é que na frente do prédio da Bienal tem um monumento em homenagem ao pé de café. O mesmo café que destruiu as florestas de São Paulo. Triste ironia!
E para Jimmie Durham, como é o bandeirante dos tempos atuais? Como ele é hoje, aquela figura que desbravava as terras paulistanas em busca de riqueza? Um manequim em uma vitrine retrata o que ele pensa do Bandeirante 2010: um homem vestido de terno bem cortado, sapato social, relógio de ouro, o inseparável blackberry, pasta preta, tacos de golf e um revólver pendurado na cintura. Olho para o lado e observo exemplares de bandeirantes modernos, andando pela bienal.
Confesso que fiquei cansada de ver tanta coisa que nada parecia com arte. Mas, definitivamente, me impressionei com tanta provocação. Nunca pensei que percorrendo apenas metade da bienal, seria obrigada a refletir sobre tanta coisa em tão pouco tempo.
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