domingo, 2 de setembro de 2012

Sonho de cidade

Imagine um sonho assim: você suando, irritado, mais um na multidão. Fecha os olhos, respira fundo e
anda dez passos. Ao abri-los, percebe que voltou no tempo.Você foi magicamente transportado para um palacete dos anos 40.

Esta é a sensação que se tem ao sair das calçadas da agitadíssima Av Brigadeiro Faria Lima e adentrar o maravilhoso universo do Museu da Casa Brasileira.

O palacete abriga uma belíssima coleção de mobiliário de épocas passadas.

A cidade, aparentemente caótica, abriga pequenos sonhos possíveis. Essa é mágica de São Paulo.

 
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O poder da colher

Dentro desse sonho, chamado Museu da Casa Brasileira,  o elemento mais surpreendente é a exposição Colheres de  Bambu. Devo confessar minha pequenez de alma quando pensei estar ali apenas para admirar o trabalho do designer do momento Todd Bracher (e assim gerar comentários do tipo olha como ela é antenada) e que vergonhosamente pensei ser  absurdo que o mesmo museu tivesse a coragem de expor uma banal coleção de colheres de bambu.

Quanta arrogância a minha acreditar que o ápice na vida de uma colher de bambu seria em uma singela barraquinha forrada de chita em Embu das Artes (pra quem não conhece, um município vizinho a capital, que é uma espécie de feira de artesanto a céu aberto).

Vitor Nogueira
 
Sorte delas, colheres, terem se tornado a razão de viver do capixaba Alvaro Abreu, que as esculpe em infindáveis formas e tamanhos, sempre respeitando sua alma, cor, cheiro e vontade. Percebe-se que já estou impregnada do trabalho desse homem que dá vida e voz ao bambu. Desde que teve um enfarto, há dezessete anos, Alvaro dedica sua vida às colheres. E eu, errante como sempre, achando que fábulas não eram possíveis.  
 
Mesmo que você não se comova com o trabalho desse capixaba e sua vontade de transformar, com seu amor e dedicação, todo bambu que toca em colher, pelo menos você lembrará que um dia foi criança, diante das definições e serventias de cada colher. Pra cada uma delas, lemos frases assim:
-  esmagar uma formiga
-  dar comida ao ancião
- tomar sopa bem quente
- rapar os restos.
- acordar os vizinhos
- insistir em ser ouvido
- chamar pra comer
 - tirar o amassado.
 
Numa cidade tão castigada e tão por isso desconfiada como São Paulo o impacto da ingenuidade e a pureza da mensagem das colheres se torna ainda maior.

 "Tenho visto pessoas sentindo emoções que beiram a ternura diante das minhas colheres de bambu. Em muitas percebe-se uma saudade de tempos antigos. Há quem, com uma colher na mão, fique mexendo uma panela imaginária, rindo e respirando fundo, como se estivesse sentindo o cheiro de goiaba doce."
Alvaro Abreu
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Além das colheres, fotos.
 
O sábio fotógrafo Hans Hansem captou a alma dessas colheres desde o primeiro momento que conheceu o trabalho de Alvaro de Abreu. E seu registro fotográfico resulta em belas fotos que retratam a magia das colheres de bambu.

Museu da Casa Brasileira
De 3af a domingo, das 10h às 18h
Av Brigadeiro Faria Lima, 2705
ingresso: R$ 4,00

3 comentários:

  1. Bom dia, Raquel

    Escrevo para lhe dar um beijinho por suas palavras sobre as minhas colheres. Pura ternura e muita gentileza.
    Fico feliz que tenha gostado do que viu.
    O livro de Hans Hansen é um dos belos capítulos de uma história sem fim.

    Alvaro Abreu

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  2. Alvaro Abreu,
    seu trabalho inspira.
    Obrigada pelo carinho,
    Raquel

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  3. Bela dica. Não conheço o Museu da casa brasileira mas vou aproveitar meu tempo esta semana aqui em Sampa para conhecer :-)

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