Imagine um sonho assim: você suando, irritado, mais um na multidão. Fecha os olhos, respira fundo e
anda dez passos. Ao abri-los, percebe que voltou no tempo.Você foi magicamente transportado para um palacete dos anos 40.
Esta é a sensação que se tem ao sair das calçadas da agitadíssima Av Brigadeiro Faria Lima e adentrar o maravilhoso universo do Museu da Casa Brasileira.
O palacete abriga uma belíssima coleção de mobiliário de épocas passadas.
A cidade, aparentemente caótica, abriga pequenos sonhos possíveis. Essa é mágica de São Paulo.
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O poder da colher
Dentro desse sonho, chamado Museu da Casa Brasileira, o elemento mais surpreendente é a exposição Colheres de Bambu. Devo confessar minha pequenez de alma quando pensei estar ali apenas para admirar o trabalho do designer do momento Todd Bracher (e assim gerar comentários do tipo olha como ela é antenada) e que vergonhosamente pensei ser absurdo que o mesmo museu tivesse a coragem de expor uma banal coleção de colheres de bambu.
Quanta arrogância a minha acreditar que o ápice na vida de uma colher de bambu seria em uma singela barraquinha forrada de chita em Embu das Artes (pra quem não conhece, um município vizinho a capital, que é uma espécie de feira de artesanto a céu aberto).
Sorte delas, colheres, terem se tornado a razão de viver do capixaba Alvaro Abreu, que as esculpe em infindáveis formas e tamanhos, sempre respeitando sua alma, cor, cheiro e vontade. Percebe-se que já estou impregnada do trabalho desse homem que dá vida e voz ao bambu. Desde que teve um enfarto, há dezessete anos, Alvaro dedica sua vida às colheres. E eu, errante como sempre, achando que fábulas não eram possíveis.
Mesmo que você não se comova com o trabalho desse capixaba e sua vontade de transformar, com seu amor e dedicação, todo bambu que toca em colher, pelo menos você lembrará que um dia foi criança, diante das definições e serventias de cada colher. Pra cada uma delas, lemos frases assim:
- esmagar uma formiga
- dar comida ao ancião
- tomar sopa bem quente
- rapar os restos.
- acordar os vizinhos
- insistir em ser ouvido
- chamar pra comer
- tirar o amassado.
Numa cidade tão castigada e tão por isso desconfiada como São Paulo o impacto da ingenuidade e a pureza da mensagem das colheres se torna ainda maior.
"Tenho visto pessoas sentindo emoções que beiram a ternura diante das minhas colheres de bambu. Em muitas percebe-se uma saudade de tempos antigos. Há quem, com uma colher na mão, fique mexendo uma panela imaginária, rindo e respirando fundo, como se estivesse sentindo o cheiro de goiaba doce."
Alvaro Abreu
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Além das colheres, fotos.
O sábio fotógrafo Hans Hansem captou a alma dessas colheres desde o primeiro momento que conheceu o trabalho de Alvaro de Abreu. E seu registro fotográfico resulta em belas fotos que retratam a magia das colheres de bambu.
Museu da Casa Brasileira
De 3af a domingo, das 10h às 18h
Av Brigadeiro Faria Lima, 2705
ingresso: R$ 4,00
Museu da Casa Brasileira
De 3af a domingo, das 10h às 18h
Av Brigadeiro Faria Lima, 2705
ingresso: R$ 4,00
Bom dia, Raquel
ResponderExcluirEscrevo para lhe dar um beijinho por suas palavras sobre as minhas colheres. Pura ternura e muita gentileza.
Fico feliz que tenha gostado do que viu.
O livro de Hans Hansen é um dos belos capítulos de uma história sem fim.
Alvaro Abreu
Alvaro Abreu,
ResponderExcluirseu trabalho inspira.
Obrigada pelo carinho,
Raquel
Bela dica. Não conheço o Museu da casa brasileira mas vou aproveitar meu tempo esta semana aqui em Sampa para conhecer :-)
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